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quinta-feira, novembro 7, 2024
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Nossos jovens e adolescentes estão adoecendo de ansiedade e estresse

O Ministério da Saúde divulgou, esta semana, que a internação de jovens e adolescentes por ansiedade e estresse cresceu 136% em dez anos. Veja bem, internação, indicada apenas para os casos mais graves. Quer dizer que a geração Z, em especial, e a Y, estão em um real surto de transtornos mentais no Brasil. E por que essa epidemia é tão visível no nosso país, que já teve fama de leveza e do “homem dócil”, e por que entre os mais jovens com uma vida pela frente? Há algumas coisas a considerar nesse alarmante cenário de (falta de) saúde mental no povo brasileiro.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) já declarou que, atualmente, o Brasil é o campeão de casos de ansiedade. Imagino que pelo caos político, econômico e social que vivemos. Estudos mostram que a qualidade de vida está diretamente atrelada à saúde mental, e países de Terceiro Mundo como o nosso, com alto índice de injustiça social, corrupção, violência, miséria e crise moral, têm “vítimas perfeitas” para transtornos como ansiedade e depressão. Essa situação culmina na alta de suicídios na nossa pátria, como tem ocorrido em toda a América Latina nos últimos anos. Os números expressivos de pessoas de todas as idades que tiram ou tentam tirar suas vidas na “terra onde canta(va) o sabiá” vão na contramão da maioria dos países de Primeiro Mundo. Lá, a sensação de acolhimento, segurança e respeito aos direitos humanos, apesar dos pesares, é maior. E não há tanto fundamentalismo.

Outro ponto, e que considero nevrálgico, é o porquê desta eclosão de crise de saúde mental exatamente nos últimos dez anos. Ora, sempre fomos um país de Terceiro Mundo, envolto na toxicidade de imbróglios políticos, econômicos, sociais, morais, preconceitos básicos, a saga para sobreviver um dia de cada vez. Mas por que nos últimos dez anos, por que na geração Z, entre jovens e adolescentes com uma vida inteira pela frente?

Tenho um palpite: as telas. O mundo está começando a descobrir, e ainda saberá o quão nocivas elas podem ser à saúde mental. Não quero ser um Ned Ludd, que saía com seus asseclas ludditas para literalmente espancar fábricas e desafiar o “malévolo progresso das máquinas”. Não quero e nem vou demonizar a tecnologia, que sempre vem para ajudar, apesar de ser sempre uma faca de dois gumes, depende de quem e como a utiliza. Só que, como disse, as telas, notadamente as redes sociais, estão cada vez mais mostrando um lado sombrio e, aparentemente, imparável. Você já ouviu aquela música “Desconstrução”, do Tiago Iorc? Escute. Mas veja o clipe. É mais ou menos isso o que vem ocorrendo com nossa juventude e até pessoas de mais idade, e não só no Brasil.

Nas redes sociais, noto cada vez mais gente querendo em “largar tudo”, falando no quanto as redes lhes prejudicam, desvelando seus problemas com ansiedade, depressão, autoestima. Ao passo que outros exalam narcisismo, mostram-se doentiamente competitivos e agressivos, donos da razão. É a natureza humana exacerbada através das telas, sem o olho no olho, com vidas e palavras editadas. E, ao mesmo tempo, é a natureza humana, ao menos no Brasil, exausta. Nosso país é o segundo em tempo de tela diário (TDT), segundo a Electronics Hub, chegando a quase 60% de uso do tempo disponível. Portanto, temos um excesso de telas e redes sociais que predomina principalmente na geração Z, galvanizando casos graves de estresse, ansiedade, burnout. São produtores e receptores de conteúdo incansáveis, ou melhor, exaustos, adoecidos, perdidos.

Mas o problema dos transtornos mentais no Brasil não é só entre jovens e adolescentes. O INSS mostrou um aumento de 1.000% nos pedidos de licença por problemas de saúde mental e burnout em 2024. Muitos brasileiros estão “surtando”.

Excesso de telas, e, mesmo offline, desavenças políticas e sociais, competição incessante, a alta velocidade das informações e das relações, a insana corrida por conhecimento, notoriedade, progresso, autoestima, destaque. A prepotência escancarada de muitos, e ao mesmo tempo a autoestima ferida e outros nas redes sociais, ou ambas as situações ao mesmo tempo, nas mesmas pessoas. A hipocrisia de manter personagens nas redes que não correspondem a muitas das vidas offline. Online, você mostra o que quer, como e quando quer. Você até fala quase o que quer. E as plataformas devem muito no quesito de punir agressores e preconceituosos.

De modo que precisamos repensar o Brasil. Mais especificamente, a saúde mental do brasileiro. Onde isso vai parar? É claro que muitos de nós não estão suportando a fugacidade, a hipocrisia e a violência da vida digital na Era Digital. E a vida offline, em meio à crise que vem de Brasília, e que já paira densamente desde os anos 1500. A derrocada de um país exploratório, contraditório, econômica e socialmente caótico, polarizado, cheio de ódio, preconceitos, exposição exagerada da vida particular, subcelebridades, bullying, falta de Educação e de educação e de conhecimento.

Mas o que fazer diante de tantos adolescentes e jovens nos hospitais com exaustão física e mental, e daqueles de mais idade que precisam recorrer ao INSS pela mesmo exaurimento? Nunca se procurou tantos psiquiatras, psicólogos, remédios para a cabeça. Isso até se prolifera em memes na Internet: a falta de saúde mental do brasileiro. É trágico e é cômico. Sei que as redes sociais têm dado algum suporte a vítimas de transtornos mentais, uma demanda óbvia, mas tem sido suficiente e eficiente?

Tem muita coisa errada no nosso país. Sempre teve, mas a impressão é de piora. O vilipêndio das telas, uma massa trabalhando “até o talo” por salários quase sempre ridículos, uma gota no oceano dos impostos que não param de aumentar. Assim como os desmandos e luxos no governo, e as digladiações entre o povo por causa deles. Ser “isentão”, como muitos gostam de pronunciar, e não extremista que rejeita rótulos, é motivo de vergonha, e não de orgulho por “pensar fora da caixa”.

O Brasil com burnout. Adolescentes, jovens, adultos. Talvez alguém possa e deva priorizar programas mais incisivos e acessíveis para melhorar a saúde mental tão combalida da maioria dos brasileiros. E aqui, incluo a classe política, em uma democracia que é governo do povo para o povo. O que temos visto não é para “amadores”: brigas de rinha de galo, sem o menor pudor, decisões autocráticas, desculpas esfarrapadas, incompetência surreal, falta de respeito, de preparo intelectual e técnico na maior máquina estatal do mundo.

Enfim, o Brasil não é mais alegre, apesar de campeão mundial em memes alegres. O Brasil é triste, ansioso, belicoso e sobrevive à deriva em tempestades de realidade externa e interna. Até a natureza grita, como nas enchentes no Rio Grande do Sul e nas queimadas no Cerrado e na Amazônia, como no abandono da Caatinga, dos povos indígenas, dos atingidos pelas águas de maio e junho no Sul. É muita gente falando ao mesmo tempo, pouca gente fazendo. É muito barulho. Falta paz. E ação. Um equilíbrio difícil para a sociedade brasileira que já foi conhecida por sua docilidade e hospitalidade. Não é mais.

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