A Justiça Federal autorizou a suspensão de serviços prestados aos Correios por uma empresa de transporte que cobra uma dívida de R$ 395,9 mil. A decisão, proferida pela 17ª Vara Federal Cível do Distrito Federal, deu à estatal um prazo de 15 dias para quitar o valor, sob pena de interrupção legal do contrato. O processo corre sob segredo de Justiça.
O episódio expõe a grave crise financeira enfrentada pelos Correios, que, mesmo acumulando o maior déficit entre as estatais federais em 2024, destinou R$ 4 milhões para o patrocínio da turnê comemorativa do cantor Gilberto Gil.
Enquanto isso, fornecedores relatam atrasos de até 60 dias nos pagamentos. No Acre, uma transportadora notificou os Correios sobre a suspensão dos serviços por uma dívida de R$ 200 mil. Empresários afirmam que tentativas extrajudiciais de cobrança não são atendidas pela direção da estatal.
“Estamos prestando um serviço essencial em condições precárias, enquanto a empresa investe em shows”, disse o dono de uma transportadora, sob anonimato por medo de retaliação.
O contraste ficou ainda mais evidente no último sábado, quando ministros, parlamentares e o ministro Fernando Haddad compareceram a uma das apresentações da turnê patrocinada. O evento também contou com a presença de membros do grupo jurídico Prerrogativas, responsável por apoiar a nomeação de Fabiano Silva dos Santos à presidência da estatal.
A Justiça entendeu que o credor esgotou “todos os meios possíveis” antes de recorrer à via judicial. A medida abre um precedente importante e levanta o alerta para um possível efeito cascata na cadeia logística dos Correios, com impacto direto no consumidor final e no desempenho da estatal frente à crescente concorrência do setor privado.
Até o momento, os Correios e o Ministério das Comunicações não se pronunciaram.