A pedra de Sísifo no seu coração: o que você nunca resolveu?

LEILA KRÜGER

Não sei se você já ouviu falar da história (ou lenda) de Sísifo. Em resumo, ele foi condenado a, eternamente, rolar uma grande pedra montanha acima; porém, quando chegava quase no topo, a pedra rolava para baixo e ele tinha de recomeçar, vez após vez, infinitas vezes. Um ciclo sem fim.
Então, hoje estava pensando matinalmente após um bom café: qual, ou quais são minhas “pedras de Sísifo” no coração, na alma, no pensamento? O que nunca resolvi de verdade. Tentei? Tentei tudo o que consegui? Não tentei, porque blindei a mim mesma enquanto me esforçava para ir vivendo?
Algumas respostas, nunca teremos, é fato. Algumas “pedras de Sísifo” nunca serão removidas: por que, por que, por quê? Como?
Outras, no entanto, é bom que enfrentemos. Olhe-se no espelho, como em uma cena idílica de um filme hollywoodiano, encare seus olhos abissais, em buracos negros, ultrapasse o limiar e reflita. Questione-se. Perceba. Admita. Aceite. Compreenda(-se). Mude. Faça.
Pedras de Sísifo podem ser situações mal-resolvidas, relacionamentos mal-resolvidos, pessoas. Nós mesmos, nossa identidade. Sei que somos seres, pretensamente, como manda a vida, em mutação. Às vezes fingimos que nada mudou, mas mentir para si mesmo é sempre a pior mentira. Só que mentira tem perna curta. E ela alcança você naquela esquina, de repente, em uma manhã ou tarde de sexta-feira, lhe segura pelos ombros, caça seus olhos, exige uma resolução.
Não que a resolução venha na hora. Até porque pode depender do tempo. Nem tudo depende de você, como pregam por aí. Mas, observe bem aquilo que de fato depende apenas de você. Certas decisões. A primeira é perceber nossa(s) ‘pedra(s) de Sísifo’. Nossos emaranhados. Podemos resolver algum deles agora? Como podemos lidar com cada um deles? Um dia de cada vez…
Pedras de Sísifo podem sim atravessar a montanha; desaparecerem; tornarem-se bem menores. Ou bem maiores do que na realidade são, na nossa mente.
A vida corre, gente. Começa engatinhando, depois anda e termina em uma maratona. Não se apresse demais, é claro, não se precipite! Mas não deixe o tempo correr à frente de você, da sua felicidade, sua identidade, seus sonhos, sua saúde física e mental.
Tenho um espelho, às vezes o cubro com um lençol para evitar assombrações – como fazem supersticiosos. Quero tirar o lençol, mas tenho medo. Enquanto em tiver medo das minhas ‘assombrações’, meus próprios medos, elas estarão ali. Porém, quando eu as enfrentar, vou saber quem são e como posso ‘expurgá-las’, ou amenizar suas aparições, seus efeitos sobre mim.
Não passe a vida carregando ou escondendo ‘pedras de Sísifo’. Não seja uma para as pessoas. Posicione-se. Pense, aja no tempo certo. Policie-se, coloque-se no lugar do outro, sonhe, decida, vá atrás. Aprenda junto comigo a fazer isso, estou tentando.
Bom, e leve fim de semana!