O Banco Central da Argentina (BCRA) confirmou nesta quinta-feira, 20, o aumento dos juros básicos em três pontos percentuais, conforme havia sido antecipado por veículos da imprensa local.
Com a decisão, a taxa da chamada Letra de Liquidez (Leliq) avança a 81%, após a inflação no país atingir o maior nível em três décadas. Segundo comunicado, a autoridade monetária também fixou em 81% a taxa mínima para os depósitos de prazo fixo de até 10 milhões de pesos e de 72,5% para o restante.
“O BCRA continua monitorando a evolução do nível geral de preços, a dinâmica do mercado de câmbios e dos agregados monetários aos efeitos de calibrar sua política de juros”, disse.
A decisão acontece poucos dias após o governo local informar que o índice de preços ao consumidor (CPI) da Argentina acelerou a uma taxa anual de 104,3% em março, no maior valor desde setembro de 1991.
Carestia
Com um aumento de 7,7% na inflação de fevereiro a março, os argentinos já não conseguem se planejar, pois os itens de uma lista de compras amanhã serão mais caros que os de hoje. A estratégia tem sido comprar opções cada vez mais baratas, principalmente de carnes e derivados do leite, os produtos que sofreram a terceira maior alta mensal, segundo o Indec.
A inflação de março é a maior desde abril de 2002, quando marcou mais de 10%. Os alimentos foram um dos que mais sofreram alta, com 9,3%, impulsionados pelo preço da carne, dos derivados do leite e dos ovos.
“Esses 7,7% desta sexta significam simplesmente que os salários das pessoas que as permitiam somente comer, agora permitem menos ainda”, explica Juan Carlos Rosiello, professor do Centro de Análises Econômicas e Empresariais da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Católica Argentina. “E no fim os mais vulneráveis são os que mais sentem a inflação.”
Segundo Rosiello, “os pobres estão ficando cada vez mais pobres. Hoje temos cerca de 40% de pobres, uma coisa inacreditável para Argentina, e isso só cresce. E a situação é pior se você olhar os números de crianças pobres, que atualmente estão em torno de 60%. Ou seja, seis de cada dez crianças são pobres na Argentina”.
Atualmente, mais de 11 milhões de argentinos vivem abaixo da linha da pobreza, mostram os números do segundo semestre de 2022 do Indec. Um dado que havia caído em 2020, mas voltou a crescer a partir do segundo semestre de 2021.
De acordo com cálculos do jornal Clarín, em Buenos Aires uma família precisa ganhar mais de 190 mil pesos (R$ 4,3 mil) – sem considerar gastos com aluguel – para não ser considerada pobre. Se somar o aluguel, os valores passam de 260 mil pesos (R$ 5,9 mil). A média salarial do país é de 80 mil pesos (R$ 1,8 mil), de acordo com o Indec.
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