Quando o amor vale a pena

É incontável a quantidade de canções, poemas, romances – em livros e filmes – e reflexões, teorias e experiências sobre ele: o amor. O amor é o grande tema universal da vida, em suas variadas formas.

Embora as engrenagens da sociedade sejam lubrificadas com dinheiro, poder, sexo e disputas ideológicas – como sempre foram, e mais do que nunca são, na época do pós-capitalismo e de uma geração nunca antes tão consumista, o amor faz o mundo girar.

E o amor, queira você ou não, é a razão de estarmos aqui. Nascemos para amar e ser amados, por mais imperfeitas que sejam as formas de faze-lo: cada qual sabe amar a seu modo, o essencial é saber amar, parafraseando o grande escritor e poeta Machado de Assis que tanto escreveu – e sabe-se lá se viveu? – sobre o amor.

Que mais?

Deus é amor, para os que Nele creem. E Deus não se explica. Deus nem mesmo existe, Ele simplesmente é. O amor simplesmente é.

Quantas obras sobre o amor inesquecíveis na História, muitas das quais obras baseadas em fatos reais: a vida imita a arte ou a arte imita a vida? Quantas pessoas sorrindo e chorando pelas esquinas, anonimamente, todos os dias e todas as noites, em quartos de hotéis, em banheiras de luxo, em sarjetas, em bares obscuros e debaixo do chuveiro fervente como o coração – por amor.

Amor Líquido

Hoje, vivemos a Modernidade Líquida, designação de Zygmunt Bauman. Ele escreveu, dentre outros livros relacionados ao temaAmor líquido. Esse livro em especial fala de uma época em que o amor se tornou volúvel, fugaz, fugidio, ameaçador, egoísta de maneira inédita. Antigamente, as pessoas esperavam meses por uma carta do(a) seu(sua) amado(a) para finalmente ter um contato.

Hoje, para muita gente, é demais esperar algumas horas por um e-mail, um zap, alguns dias para um reencontro. É demais se doar, ceder, consertar em vez de trocar de uma vez o que incomoda, um fast-food de corações, de pessoas que já preferem ostentar um amor nas redes sociais – quase sempre editado e não correspondente a uma realidade completa – a ter um amor de verdade; aquele do dia a dia, de um dia de cada vez, de perdoar, compreender, aceitar o que for passível de se aceitar.

Hoje, o amor quase nunca vale a pena, nunca foi tão chama passageira de Vinícius de Moraes. Milhares de pessoas preferem a si mesmas, se entregar saiu de moda.

Por outro lado, muita gente suporta relacionamentos abusivos, incontáveis terminam em tragédias, quase sempre feminicídio. Isso não é amor – as pessoas cada vez querem a posse, a imagem, o controle, e não as mencionadas aceitação e compreensão, e a paciência e resiliência. Por que falo nisso? Porque, cada vez mais, o que se pensa ser excesso de amor, nem amor é.

Estaríamos esquecendo o que é o amor, mesmo sem saber – e quem saberia? – explicá-lo? Estamos deixando fácil escapar o amor da nossa vida, por medo, insegurança, egocentrismo ou comodismo? Estamos fazendo o amor que vale a pena não valer, e insistindo no que não vale?

E como saber quando o amor vale a pena, até onde suportar, o que é tóxico ou apenas provação para solidificar laços?

Deixo uma frase da melhor escritora que já conheci, a melhor ourives de palavras, Clarice Lispector:

“Sou apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer.”

Pense com o coração, mas não se esqueça de que ele só funciona bem alinhado com a cabeça.

Não desista fácil do que vale a pena, ou de quem vale, “onde não puderes amar não te demores” – Frida Kahlo.

Pequenos detalhes, o tempo e as atitudes vão mostrar a você. Seja forte se tiver de ser, um dia você pode perceber que valeu a pena.

O amor verdadeiro existe – não como em Hollywood – e da sua imperfeição vem a beleza de viver.