“Quão solitário(a) você está?

“Quão solitário você está?”. Encontrei esta pergunta na rede social Quora, um local de apoio mútuo (e discussões, às vezes não tão cooperativas), em busca de respostas a perguntas realizadas por usuários. O questionamento acima, que não sei quem fez,recebeu inúmeros feedbacks (retornos) e visualizações – mais de 880 mil views. E, como a muitas pessoas, me tocou bastante e me fez refletir.

Assim, gostaria de deixar aqui, na íntegra, o depoimento de uma usuária que fez questão de se manter anônima, respondendo à pergunta proposta: “Quão solitário você está?”. Acredito que possa servir para ponderarmos o quanto estamos nos sentindo sozinhos, solitários, desamparados, ainda que rodeados de pessoas, com status e muitos “likes” nas redes sociais; ou disfarçando-nos em sorrisos amarelos e máscaras sociais.

A seguir, transcrevo o desabafo que teve mais de 880 mil visualizações no Quora.

 

“Quão solitário(a) você está?

Eu vou me manter anônima porque eu não quero que ninguém saiba o quão sozinha eu sou.

Eu tenho 19 anos. Eu acordo e vou para a faculdade.

Eu vou para o ponto de ônibus onde há vários conhecidos que vão para a faculdade comigo.

Se infelizmente eu estiver atrasada para chegar até o ponto de ônibus, eu perco o ônibus. Eles raramente pedem para o ônibus me esperar. Eu preciso ligar para eles e pedir para que eles peçam que o ônibus me espere.

No ônibus eu não sento do lado de ninguém porque as pessoas que eu gosto não gostam de mim e vice versa.

Eu desço na faculdade. Compareço nas aulas chatas. Tenho vontade de matar uma aula e aproveitar com amigos, mas eu raramente faço isso porque eu não tenho amigos e aqueles que eu conheço não querem sair comigo.

 

Frequentemente eu olho para as pessoas à minha volta e me pergunto como todo mundo tem amigos. Também me pergunto por que eu não sou prioridade para ninguém.

Eu chego em casa e descanso por alguns minutos antes da minha mãe bater na minha porta.

Eu espero ela perguntar sobre o meu dia, mas ela nunca pergunta. Às vezes eu deixo escapar como foi o meu dia pois quero falar com alguém.

Minha irmã, que está no exterior, liga para minha mãe, mas nunca para mim. Minha mãe e a irmã dela conversam e trocam muitas informações, mas nenhuma delas me contam algo. Mesmo quando é importante.

Eu tenho um relacionamento difícil com o meu pai. Ele acha que eu não o respeito, que sou uma pirralha arrogante. Eu estou cansada de explicar para ele que eu não sou. Eu sou apenas opinativa. Eu desisti.

Nem meus pais nem minha irmã perguntam sobre minha vida e raramente compartilham a deles.

Eu não tenho uma melhor amiga que sempre me enviar mensagens e telefona quando tem alguma coisa para falar, que na maioria das vezes seria sobre seu namorado.

Eu sempre quis um melhor amigo homem. Mas homens raramente falam comigo. Os homens que falam comigo são extremamente repulsivos ou muito estranhos.

Tem um cara que quase me fez acreditar que eu era especial para ele. Ele foi a única pessoa que fez eu me sentir daquela maneira. Eu sabia e ainda sei que ele está apenas brincando comigo. Mas ainda espero que não seja verdade.

Eu quero ser feliz e ter experiências como uma pessoa normal. Mas parece impossível.

Eu estou cansada de estar sozinha.

Uma vez eu enviei uma mensagem para um quorano popular. Eu elogiei sua resposta e ele me respondeu. Quando eu perguntei para ele se eu poderia trocar mensagens com ele e se ele queria ser meu amigo ele simplesmente viu minha mensagem e escolheu não responder.

Uma resposta, até mesmo uma rejeição é melhor do que ser ignorado.

Um humilde pedido para o pessoal do Quora. Para aqueles que dizem conversar e trocar mensagem a respeito de qualquer problema, deveriam parar se não conseguem responder. E para aqueles que os seguem, não acredite cegamente.

Todo mundo tem uma máscara.

Me sinto muito depressiva às vezes e eu quero passar em algum médico. Mas eu ainda não sou financeiramente independente. Minha família não me leva a sério quando eu falo que quero ir ao médico.

E esta é minha vida solitária.

Eu apenas queria alguém que se importasse comigo e estivesse ao meu lado.

Eu não sei se isso é possível.

Eu me encarreguei de odiar a mim mesma. Se isso continuar eu irei cair em um rio de auto-ódio e depreciação.

Ainda tenho esperança. Esperança é a única coisa que tenho.

Eu quero mudar minha vida.

Se vocês leram a resposta completa então,

OBRIGADA pela paciência.

Pessoas que não têm esses dias.”

E aí, o quão solitário você está, ou se sente?

Certamente não é sobre o que você aparenta, apenas, ou o que os outros pensam de você.

Solidão é sobre alma, coração, dor, compreensão e incompreensão, preconceitos, ansiedade, depressão, medo, incertezas. É sobre o que há de mais profundo em cada um de nós. Faço-me esta pergunta hoje, e percebo, sob meu olhar, que as pessoas realmente parecem cada vez menos acolhidas e acolhedoras, menos compreendidas, mais solitárias, enraivecidas, frustradas. E, mais uma vez, não tem a ver com as aparências, principalmente nas redes sociais.

O que faz você se sentir só?

Talvez uma perda, ou várias. Talvez a perda de si mesmo(a). Talvez um vazio sem nome (qual seriam os possíveis nomes dele?). Por que parece que estamos cada vez mais solitários, como indivíduos em uma sociedade libertária e repleta de atrativos e entretenimento? As desavenças entre as pessoas apenas aumentam, a pandemia de Covid-19 não nos fez melhores. Há o “ódio do bem”. O “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Julgamentos de quem mal se conhece, online e off-line. Haters que literalmente destroem vidas.

Lembrando que solidão não é o mesmo que solitude. Solitude é a virtude de desfrutar a própria companhia, em paz e reflexão e autoconhecimento. Solidão é um buraco, uma falta, um sentimento de perdição ou tristeza, incompletude sôfrega. Abandono.

“E esta é minha vida solitária.

Eu apenas queria alguém que se importasse comigo e estivesse ao meu lado.”

Quem realmente está do seu lado, nas horas boas e ruins? Quem você acha que deveria não estar mais ao seu lado? Quem é você? O que você busca? Quão solitário você está, e por quê?