Março é o Mês da Mulher. Literatura é minha paixão. Assim, hoje vou escrever sobre uma mulher marcante – mas esquecida – na Literatura.
Poucos já ouviram falar em Maria Firmina dos Reis (1825-1917). Ela é considerada a primeira romancista do Brasil. E com um detalhe: Maria Firmina nasceu de mãe branca e pai negro antes da abolição da escravatura no país, em 13 de maio de 1888, através da princesa Isabel.
Maria Firmina foi uma mulher que inovou na Educação e nas artes, deixando um legado incomparável.
Negra e bastarda
Maria Firmina dos Reis nasceu na ilha São Luís, Maranhão, em 11 de março de 1825, registrada como filha de João Pedro Esteves, pai ilegítimo, e Leonor Felipe dos Reis. A escritora era prima do escritor Francisco Sotero dos Reis por parte de mãe.
Em 1830, Maria Firmina se mudou com a família para a vila de São José de Guimarães, passando parte de sua vida na casa de uma tia materna. No ano de 1847, foi aprovada em Instrução Primária, indo exercer a profissão de professora de Primeiras Letras de 1847 a 1881. Na verdade, Maria Firmina foi a primeira mulher a ser selecionada em um concurso público no Maranhão para o cargo de professora do primário. Sustentava-se com seu próprio salário, afrontando seu tempo.
A autora foi descrita como frágil, tímida e pequena, parda, de rosto arredondado, olhos escuros e cabelos crespos e grisalhos presos na altura da nuca. Há depoimentos que revelam que se tratava de uma professora que falava baixo e não permitia castigos corporais, sendo boa conselheira e estimada pelos alunos e pela população da vila de Guimarães.
Escritora, abolicionista, educadora e musicista
Em 1859, Maria Firmina publicou o romance “Úrsula”, oficialmente o primeiro romance de uma autora no Brasil. Já em 1887, lançou, na Revista Maranhense, o conto “A escrava”, abordando um abolicionista.
Com 54 anos de idade, contando 34 de magistério, Maria Firmina fundou uma aula mista e gratuita para alunos que não podiam pagar, em Maçaricó. A autora chegava em um carro de boi e trabalhava em um barracão localizado nas terras de um senhor de engenho.
Maria Firmina participou ativamente da vida intelectual maranhense, através da imprensa, de livros e antologias. Ainda contribuiu como música e compositora, engajada na causa abolicionista.
A heroína escreveu a obra “Hino da abolição dos escravos”, tendo várias publicações em revistas e jornais. No entanto, morreu cega e pobre, aos 92 anos de idade, na casa de uma ex-escrava de nome Mariazinha, mãe de um de seus filhos de criação.
Militante da mulher e do escravo
A escrita de Maria Firmina, segundo especialistas, é caracterizada por apresentar narrativa e personagens sem grande complexidade psicológica. No entanto, os personagens vivem situações extremas, com mudanças bruscas no destino. Humanizava os escravos, tornando-os nobres e generosos, sem deixar de lado a crítica à escravidão.
“Úrsula”, a obra mais conhecida da escritora, é considerada uma narrativa folhetinhesca, ou seja, popular. Esse recurso estilístico permitia, intencionalmente, que os textos de Maria Firmina fossem apreciados pelas pessoas em geral em favor dos oprimidos, especialmente a mulher e o escravo.
Em “Úrsula”, temos um triângulo amoroso formado por uma jovem chamada Úrsula, seu amado Tancredo e o Comendador, que assassinara o pai e abandonara a mãe da protagonista, entrevada em uma cama. Pode-se deduzir que o Comendador expõe a imagem do senhor cruel que explora a mão de obra escrava. A obra, afinal, apresenta lampejos sobre a situação deplorável dos escravos.
Vamos falar mais de mulheres que deram a vida pela Educação, Arte e Liberdade? Em tempos de tanto preconceito e censura, o mundo agradece.