Ansiedade: O Mal do Século XIX

E quais os motivos da pandemia global de ansiedade e depressão?

Se o tédio já foi “O Mal do Século XIX” (e, possivelmente, de séculos anteriores), hoje a grande vilã social – e mais perigosa – é a ansiedade. Especialmente no Brasil: segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a terra brasilis é o lugar mais ansioso do mundo. Embora, além de nossos limites geográficos, o mundo esteja em plena pandemia de ansiedade.

A OMS declarou, em relatório de 2023, que o Brasil, como em anos anteriores, ainda é considerado o lugar com mais casos de ansiedade e depressão. Segundo a entidade, os dados mais alarmantes estão, segundo pesquisas como as da OMS, no Brasil e na América Latina – embora cerca de 10% da população mundial sofra de ansiedade e depressão,

E quais os motivos da pandemia global de ansiedade e depressão?

Possivelmente, a pandemia de saúde mental é reflexo da pandemia devastadora de Covid, dentre outros fatores como as conjunturas política, econômica e social, agravantes para a saúde mental das populações, no sentido de incitar o desenvolvimento de transtornos de ansiedade.

No Brasil, a instabilidade financeira, oscilações sociais, baixa escolaridade e infraestrutura precária, inclusive em termos de qualidade dos serviços públicos, contribuem para que seja um país campeão em transtornos de saúde mental como ansiedade e depressão.

 

A Docway, uma empresa especializada em soluções de saúde digital, constatou, em recente pesquisa, um crescimento de 22,1% nos atendimentos de telemedicina, e de 1.290% nas consultas psiquiátricas e em psicólogos em 2022 no mundo. Estes números representam um salto de 2.852 atendimentos para 35.898 em 2022. Ainda, ocorreu elevação de 36,5% nos diagnósticos de pacientes com transtornos de ansiedade no planeta.

 

Neste cenário, é importante conscientizar-mo-nos, cada um de nós, da importância de buscar tratamentos que se adequem a cada um de nós, e não soluções fáceis e rápidas como vícios em substâncias, lícitas ou ilícitas, como tarjas-pretas (somos a “geração Rivotril” no Brasil), bebidas alcoólicas em excesso e drogas. São painkillers, “tapa-buracos”, mas, além de não resolverem transtornos mentais, ainda pioram os quadros.

Por fim, lembremo-nos de que a ansiedade comum é diferente do transtorno de ansiedade. A princípio, a ansiedade é uma resposta fisiológica normal, que faz parte de nossos mecanismos de autopreservação e defesa. Já a ansiedade crônica, generalizada, engloba sintomas como preocupação e medo constantes e excessivos, tensão muscular, inquietação, insônia, taquicardia, sudorese, falta de ar, tonturas, problemas gástricos como gastrite e úlceras, e intestinais. A priori, a ansiedade pode desencadear sintomas os mais variados possíveis, dependendo da pessoa, o que leva muita gente a pensar que está mortalmente doente em seu físico. Ansiedade, além disso, pode ser um sintoma de estresse e causar problemas de saúde físicos, como hipertensão.

Pode vir associada – ou não – a depressão, síndrome do pânico, TOC e outros transtornos, alguns do espectro autista (ETA), e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). E, mais uma vez,  a ansiedade tem tratamento e deve ser tratada, até porque impacta as vidas pessoal e profissional das pessoas, afetando sua capacidade de tomar decisões corretas e de lidar com o cotidiano e com relacionamentos em geral.

A OMS considera como partes do espectro dos transtornos de ansiedade: fobias, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e ataques de pânico. Moléstias que podem e devem ser tratadas com terapia e medicação. Muitos, no Brasil (e no mundo), consideram a ansiedade “frescura”, envolvida em mitos de “gente fraca” ou “mimada”; mas, como vimos, é um problema global e endêmico no Brasil. Então, já passou muito da hora de falarmos em ansiedade de forma esclarecedora, o que tem ocorrido nas redes sociais, através de aplicativos de celular, informações divulgadas pelos governos, ONGs, outras mídias etc.

Mas como tratar ansiedade crônica?

O Ministério da Saúde do Brasil classifica os tratamentos para ansiedade (e depressão) em três tipos: medicamentos, com acompanhamento médico; psicoterapia, com auxílio de psiquiatra ou psicólogo; e a combinação dessas soluções. Tais tratamentos são disponibilizados, no Brasil, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), apesar da precariedade e dos baixos investimentos nessa instituição, conhecidos por todos nós que já a utilizamos alguma vez – e temos lugar de fala.

Ansiedade é coisa séria: mente sã em corpo são, corpo são em mente sã. Exercícios físicos regulares (três vezes por semana ou mais) e relacionamentos saudáveis, na medida do possível, evitando o estresse mental e o físico, são bons aliados no combate aos malefícios das doenças do espectro do transtorno de ansiedade.