As coisas (pessoas) que nunca vamos esquecer

Leila Krüger

“Com o tempo passa.” É assim que as pessoas dizem por aí. Isso se aplica, realmente, a uma boa parte das coisas que nos ferem, incomodam, perturbam, às vezes quase acabam com a gente. Mas, se você pensar bem, todos nós temos coisas (ou pessoas) que nunca vamos conseguir esquecer. “E tá tudo bem”, como diz o bordão da moda.

 

Você não é obrigado ou obrigada a “escolher ser forte” sempre. Você não vai poder escolher sempre. Sabia que cerca de 90% das nossas reações advém do nosso subconsciente? Então, o subconsciente é nossa “caixa preta”, que só acessamos nos sonhos, em estado de inconsciência, portanto, em sessões de hipnose clínica, em pensamentos, sentimentos e atitudes que não controlamos, ou que temos dificuldade de controlar. Você não é obrigado, ou obrigada a “deixar pra lá” sempre, porque a ferida às vezes ficou tatuada no lugar mais fundo de você.

 

Uma perda, algumas perdas. Algo na infância, ou ainda no útero – sabe-se que o bebê já sente as emoções da mãe, e tem reações emocionais a partir de certo momento da gravidez. E a infância, ah, quem de nós não deixou alguma coisa lá? “Você culpa seus pais por tudo…” (Legião Urbana). Talvez nunca passe. A dor, o “trauma”, a memória. Embora tudo possa se amainar com o tempo.

 

Terapia é útil, estilo de vida e relacionamentos saudáveis, ser uma pessoa minimamente ponderada. Entretanto, ser, ao mesmo tempo, uma pessoa intrépida, a ponto de não deixar a vida passar por medo de tentar, na maioria das vezes. Tudo bem se você precisar de remédios, “remédios para a cabeça”. Pode ser que você utilize alguns deles para o resto da vida. Ou apenas consiga diminuir as doses. Enfim, você pode fazer muitas coisas para ficar bem, mas talvez não passe. Talvez tenha de conviver o resto da vida com uma ferida, uma carência, um “buraco”. Um pedaço de você que se foi, ou vários que se vão na “longa (ou nem tanto) estrada da vida”.

 

Pode ser que passe um dia. Pode ser que amenize. Pode ser que nunca passe, e você, ou alguma parte bem dentro de você, nunca se esqueça de algo ou alguém, de maneira que você sofra. E tá tudo bem, embora pudesse estar melhor. O principal é aprender a lidar com o que não podemos controlar, e, importante: não descarregar nos outros nossas frustrações.

 

Todos nós temos abalos, problemas, fraquezas, até mesmo os vencedores de Oscars em Hollywood, ou as pessoas mais admiráveis que você conhece (você realmente as conhece? “De perto ninguém é normal”, disse Caetano).

 

A vida é hoje. Se não conseguir esquecer, não deixe o passado ser mais importante que o presente e o futuro: não deixe de sonhar. “Você sonha muito alto, vive no mundo da lua” – disse quem não teve coragem de sonhar o suficiente e agora talvez seja tarde demais… Tudo bem ser um “soldado ferido”. Só a dor da ferida não pode, não pode mesmo, ser maior que a fé, o amor(-próprio) e a resiliência, a força de viver um dia de cada vez.

 

Ah, sobre a culpa da sua dor? Isso realmente importa? Cada um tem seu lado. Pense no que aprendeu, ou precisa aprender para se tornar uma pessoa melhor. Até porque algumas, eu diria muitas das melhores pessoas no mundo, são as que mais sofreram e aprenderam a continuar.