Autobullying: pare de se sabotar e se culpar tanto!

Projetos deverão ser encaminhados à Assembleia Legislativa em breve    |    Com informações -  Correio do Povo

 Hoje, é um clichê falar sobre “amor-próprio”, “autoestima” e “autoaceitação”, por exemplo.

Mas, na prática, não é tão simples – não para todo mundo.

Cada um de  nós carrega uma carga, consciente e inconscientemente, de “gatilhos mentais” negativos (e positivos), traumas, fraquezas, marcas da infância e adolescência que nem sempre conseguimos tocar ou reconhecer. Fui criada em um ambiente de fundamentalismo religioso, agressividade e timidez que muito me amordaçou, em todos os sentidos – embora tenha me ajudado a me aproximar de Deus, que, para mim, não é (mais) religião, como não é o meu cristianismo; e me ajudou a manter certa disciplina de vida.

Pois foi com muita “revelia”, perda de amizades e contatos, até amores, e acusações, medo, insegurança e igualmente coragem e determinação, e certo remorso que resolvi começar a aprender a dizer mais “nãos”, a deixar mais claro o que quero ou acho que seria melhor para mim, a me afastar de quem e do que não me fazia bem, e do que não faz parte da minha essência.

Qual é a minha essência? Descubro-a todo dia: é mais fácil encontrar aquilo do que não gostamos e nos moldarmos a partir disso. Mas, buscando a si mesmo, você descobre, não sem espanto às vezes, o que e quem lhe faz bem, e quem você é.

Acredito que muita gente não me reconhece mais atualmente – tanto física quanto mentalmente. E estão certos: eu não sou a mesma.

Alguns ficaram mais distantes, outros ficaram para trás para sempre, e outros ainda tiveram nossa relação, digamos, repensada. Não sem dor é que a gente cresce – tanto física quanto mentalmente. Não sem coragem, que muitos vão chamar, maliciosamente, de audácia, prepotência ou até infâmia, que você consegue alcançar suas próprias profundezas, sua espiritualidade em linha direta com Deus (ou seus deuses), seus objetivos e desejos verdadeiros.

Eu sei, como diz o apóstolo Paulo: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm”. Liberdade “para dentro da cabeça” não é libertinagem, irresponsabilidade, imaturidade. Ao contrário. Liberdade é ser responsável por suas escolhas, buscar se autoconhecer sempre, aceitar o diferente – ainda que não concorde com tal. E, no meu caso, procurar entender o que o Ser mais sábio de que se tem notícia, Jesus Cristo, acha que me fará bem, mesmo que envolva um processo doloroso. Ele até pode me deixar escolher, dentro de um leque, sabendo o que é mais sábio.

Não tenho mais (muito) medo de perder pessoas que discordam de ou não compreendem quem eu sou ou estou me tornando; de sofrer retaliações por falar o que penso (é claro que nem sempre se deve dizer tudo o que se pensa, mas deve haver uma autenticidade perene em ser quem se é). Ademais, não tenho mais (muito) medo de renunciar coisas segundo meus princípios. De não me culpar tanto. De parar com o autobullying constante, com a necessidade fundamentalista religiosa e cultural de se punir e sentir culpa o tempo todo (gosto da parábola do Filho Pródigo). 

Afinal, sem vitimismo – quem me conhece sabe que detesto esse sentimento, do qual nenhum de nós está, por vezes, livre: fui ensinada a sentir culpa por mínimas coisas, a ter dificuldade para me perdoar e perdoar a outras pessoas, por consequência, a me amar e a acreditar em mim.

De quem é a culpa? Não sei, eu era nova, talvez outros não soubessem o que estavam fazendo, talvez “fosse para ser”. Esta não é a questão agora.

A questão é que, quando você descobre que pode plantar e regar raízes de autoestima – e isso significa vontade de melhorar, e disposição para se perdoar por falhar -, amor-próprio e perdão a si mesmo e aos outros, presumo que seja um processo irreversível. Não julguemos uns aos outros, e nos julgar, só a Deus cabe (ou a você mesmo, se não tiver uma crença).

A cultura e a História nos instigam culpa. Estamos, muitos de nós, frustrados, irritados, intolerantes, tristes, sem rumo. Ainda que andando em um iate milionário no Instagram.

Instigue-se amor-próprio e amor ao próximo, perdão a si mesmo e ao próximo, frustração e culpa, cientificamente, adoecem. Aprenda a recomeçar, que o fim é o que realmente importa, e a vida é um aprendizado em cliclos para quem sabe “ouvi-la” e abraçá-la.