O caso do serial killer Adriano da Silva, que matou pelo menos nove crianças na Região Norte do Rio Grande do Sul, completa 20 anos neste mês. Há exatas duas décadas, o corpo da primeira vítima era encontrado em Lagoa Vermelha. Nos meses seguintes, ele mataria outros oito meninos, segundo as provas colhidas pelo Ministério Público.

No primeiro depoimento à polícia, Adriano da Silva confessou ter assassinado 12 crianças. Todos meninos, com idades entre 8 e 14 anos. Os crimes aconteceram entre agosto de 2002 e janeiro de 2004 nas cidades de Passo Fundo, Lagoa Vermelha, Soledade e Sananduva.

Adriano foi julgado diversas vezes pelos assassinatos e soma penas de mais de 200 anos de prisão em regime fechado. Ele segue detido em uma unidade prisional. Apesar da soma das penas, pela legislação brasileira na época, Adriano deve deixar o presídio em 2034.

Vítimas

A primeira vítima conhecida do serial killer foi Éderson Leite, de 12 anos. Em 16 de agosto de 2002, ele saiu de casa para vender números de rifas de uma escolinha de futebol da cidade, e nunca mais foi visto com vida.

Depois de 23 dias de buscas, que contaram com a ajuda de moradores da cidade, o corpo foi encontrado próximo a um riacho.

“Ele era bem extrovertido, brincava, jogava bola, ia no colégio, sempre assim companheiro. A gente não sabia quem tinha feito isso, a gente nem imaginava porque ia pensar em quem né”, diz a mãe de Éderson, Erli Leite.

Em 2003, os crimes continuaram. No mês de abril, em Soledade, Douglas de Oliveira Hass, de 10 anos desapareceu. No mesmo ano, em menos de oito meses, cinco meninos desapareceram em Passo Fundo.

“A Polícia Civil no início trabalhava com diversas hipóteses, mas no momento em que começaram a se suceder os crimes, com crianças, com os mesmos vestígios, ou seja, com o sinal de estrangulamento, uso de corda, fio no pescoço, para asfixiá-lo e também sinais de abuso sexual, a polícia começou a olhar com mais intensidade para essa linha de que era um autor só”, diz o delegado aposentado Paulo Ruschel.

Em outubro de 2003, Leonardo Dornelles dos Santos, de 8 anos, foi visto pela última vez em um fliperama.

“A família obteve uma informação bem importante tendo em vista que a vítima tinha sido vista conversando com o suspeito e conseguiu encontrar o paradeiro dessa pessoa. A partir dali a polícia ouviu esse suspeito, até então, que apresentou, aí que é questão, uma certidão de nascimento com o nome que na verdade na época foi dado o nome ‘Gabriel Vicente da Silva’ e que ao se consultar no sistema não se verificou qualquer mandado de prisão contra essa pessoa, ele foi liberado, mas foi tirado uma fotografia de rosto”, conta Ruschel.

O homem foi intimado e deveria ter retornado à delegacia, mas acabou fugindo.

As investigações

 

A polícia então começou a investigar quem seria Gabriel Vicente da Silva.

“Descobrimos que esse Gabriel tinha um trabalho ativo no Paraná. Contatamos a delegacia daquele local que confirmaram que lá tinha um ‘pacato morador’ Gabriel Vicente da Silva, e que estava lá, morando lá, não tinha saído da cidade. Nós encaminhamos a foto para aquela delegacia e partir daí surgiu pela primeira vez o nome correto e verdadeiro do autor. O Adriano da Silva”, diz o delegado.

Na época com 25 anos, Adriano da Silva era foragido da Justiça do Paraná. Ele tinha sido condenado a quase 30 anos de prisão por um latrocínio, mas conseguiu fugir do presídio.

As buscas começaram mas, mesmo assim, em janeiro de 2004, Adriano fez mais uma vítima. Daniel Bernardi Lourenço, de 14 anos, vendia picolés quando Adriano encomendou sorvetes para uma festa.

Segundo a polícia, o menino foi espancado e violentado. O corpo dele foi encontrado em uma lavoura.

Um amigo que estava com Daniel reconheceu Adriano. A polícia encontrou o homem três dias depois em uma estrada próximo da divisa com Santa Catarina.

O Ministério Público acredita que seja o maior serial killer que já existiu no Rio Grande do Sul.

“A partir do momento em que se linkou algumas características semelhantes do crime, a região, mas efetivamente a partir do momento em que se conseguiu prender o Adriano da Silva e ele passa a confessar toda aquela série de delitos que ele cometeu”, diz o promotor de justiça Fabiano Dallazen.

No depoimento à polícia, Adriano teria revelado que usava golpes de artes marciais e que atraía os meninos oferecendo dinheiro.

O MP denunciou Adriano pelas mortes de nove meninos.

Laudo

 

Um laudo do Instituto Psiquiátrico Forense Maurício Cardoso, de 2004, apresentou mais detalhes sobre o perfil de Adriano da Silva. No exame, ele relatou um vício por matar e chegou a dizer que poderia ter feito outras vítimas se continuasse solto.

Para os técnicos, ele mostrou uma fria racionalidade e incapacidade de considerar outras pessoas como seres humanos.

A indicação era para que ele cumprisse pena em uma penitenciária de segurança máxima. Reforçando que Adriano era plenamente capaz de entender o caráter ilícito dos crimes.

“Ao mesmo tempo em que ele apresentava um diagnóstico que era do transtorno antissocial de personalidade, ou seja, ele tinha uma grande dificuldade de se adaptar as regras e entender aquilo que ele estava fazendo de uma forma correta. Ao mesmo tempo disse que aquilo não tinha cura e no momento em que ele sair é propenso a praticar os mesmos delitos e por isso indicava o maior tempo de reclusão possível”, destaca Dallazen.

Julgamento

 

Adriano foi julgado pelos crimes de homicídio, ocultação de cadáver, atentado violento ao pudor, estupro, falsa identidade e furto. Os casos foram a júri popular ao longo de cinco anos em Passo Fundo, Sananduva, Soledade e Lagoa Vermelha. Ele foi condenado em todos eles.

“Nos nove processos em que o Ministério Público encontrou provas cabais, através da investigação, ofereceu a denúncia, ele foi condenado. Porque nós estamos tratando de crianças, nós temos aí confirmados nove casos, em que ele foi condenado, todos de uma forma cruel, matando as crianças com as próprias mãos”, diz o promotor.

A juíza Lísia Dorneles Dal Osto conta que Adriano se mostrou muito tranquilo no julgamento.

“Ele se comportou de maneira muito tranquila no julgamento na época, mas foi mantido com escolta constante no intervalo do almoço então permaneceu nessa sala pra almoçar. Era uma mesa de madeira, um mobiliário mais antigo do tribunal e mesmo sob custódia, algemado, a gente acredita que ele usou as algemas, ele entalhou na mesa de madeira o nome dele completo: Adriano da Silva. Então, isso também demonstrou o perfil dele, muito vaidoso”, lembra.

Soltura

 

Adriano deve ser solto em pouco mais de 10 anos. Com isso, começam a surgir dúvidas e medos de autoridades e famílias.

“O que o estado vai fazer com esse cidadão com o Adriano da Silva, quando terminar o tempo de pena dele? O que vai fazer quando abrir as portas para receber esse cidadão com esse diagnóstico que ele tem”, diz a juíza Lísia.

Enquanto isso, as famílias relembram memórias das vítimas.

“Ele está sempre junto com a gente. Por mais que não esteja presente, está sempre no coração”, diz Erli.

“Nada vai mudar, depois do que me tiraram, o que tiraram de mim foi muito grande, foi meu filho, minha vida”, diz Eliane Silveira, mãe de Alessandro, outra das vítimas.

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