Mudar é necessário – para o nosso bem e o de quem amamos

 Já dizia aquela velha melodia: “Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim/Vou ser sempre assim…” (“Modinha para Gabriela”, música imortalizada na voz de Gal Costa). Acredito que, dentre outras, temos estas duas dicotomias como seres humanos: nos aceitar e aceitarmos aos outros como são – ao menos respeitá-los; e mudar para nos tornarmos melhores, notadamente a tal “melhor versão de nós mesmos” que leva em conta a manutenção da nossa “essência”.

Mas nem sempre mudar é saudável.

Por exemplo, pessoas que se amoldam a outras que não as representam ou compreendem para serem aceitas, ou para obterem algum benefício (não quero julgar a ninguém, isso pertence a Deus). Pessoas obcecadas por intervenções estéticas, que matam cada vez mais, em busca do corpo perfeito e da beleza inquestionável – a alma definha, enquanto isso, como no livro “O retrato de Dorian Grey”, obra-prima de Oscar Wilde? Pessoas que não sabem qual é sua identidade. Quem você é.

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos” (José Saramago). Dá para saber e sentir, sem explicar. Primeiro, quem você não é, depois o que você é.

Mudar a nós mesmos é necessário. Até porque, se você não muda, não dá os primeiros passos, acaba “escolhendo sem escolher”, deixando que escolham por você. Veja, o tempo voa. A vida é feita de ciclos. Assim, nós mudamos e mudamos de companhias, ideologias (algumas, não que seja necessário cortar nossas raízes), as pessoas mudam (algumas permanecem sempre as mesmas).

Se a experiência e a maturidade, não necessariamente ligadas ao tempo, nos fazem mudar por fora inevitavelmente, por que, então, não consideramos que devemos mudar por dentro, por contra própria, em uma jornada contínua, não de insatisfação meramente, mas de autocuidado e amor-próprio, e de fazer a vida valer a pena?

Nem tudo é ou jamais vai ser como a gente quer. E, me parece, tendemos a acreditar que no passado, apesar de tudo, as coisas eram melhores. Cuidado com nossas lentes “sujas”! Cada época da vida, cada idade, cada fase, teve uma versão de nós. Mas há uma versão essencial de cada um de nós, e é única.

Nós mudamos não só por nós, nossos sonhos, objetivos, em busca do nosso “eu” multifacetado. Mudamos, também, por amor a quem amamos. Não no sentido de deixar de ser quem somos, ou quem podemos e queremos nos tornar, mas de aprimorar nossa convivência e o amor em si. Hábitos nefastos, por exemplo, e palavras que ferem com excessiva dureza podem ser evitados. Há várias formas de se falar algo difícil a alguém que amamos – embora a reação de cada um não seja totalmente responsabilidade nossa. A nossa reação, é.

O que você pode mudar, e já deveria ter mudado? Talvez ainda dê tempo. É verdade, nem sempre dá para mudar tudo o que já devíamos ter alterado lá atrás. Mas alguma mudança sempre é possível. Por você, em primeiro lugar. Por quem você ama.

Não deixe nada para depois.

Um dia de cada vez.

Só por hoje.

Só por hoje nunca mais.

Clichezão, mas é isso!

Que tal até fazer uma listinha das coisas que precisa ou quer? (Porque podemos apenas querer certas mudanças, que achamos que nos farão felizes, e só o futuro vai dizer). Que tal parar de remoer o passado, mas olhar para o presente, vislumbrando, a partir dele, de cada ato e pensamento, mudanças incríveis e, por que não, que você nunca imaginou ser capaz de realizar?

Bom fim de semana! Bom dezembro! O ano se despede, de quem você precisa se despedir, quais “anos novos” precisa começar?