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segunda-feira, maio 6, 2024
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“O Mal Secreto”: o veneno da inveja

Em 1998, o saudoso Zuenir Ventura publicou o livro Mal secreto: invejaprimeiro volume da coleção Plenos Pecados. Eu li esse livro, em que o autor, em vez de contar uma jornada ficcional, descreve a sua própria, atrás das razões e consequências desse Mal Secreto, recorrendo a estratégias tão diversas como conhecer terreiros, onde as pessoas queriam vingança, prosperidade e, muitas vezes, a destruição de seus desafetos, e conversar com padres que ouviam confissões. Eu adorei essa obra, mudou minha vida – e certamente a de Zuenir, que atravessava um problema de saúde, descoberto durante a escrita do livro.

A inveja é o Mal Secreto porque é o pecado que mais tentamos esconder dentre todos os sete capitais. O que não queremos admitir em nós mesmos e tendemos a ver facilmente nos outros.

O fato é que a inveja faz parte da natureza humana – e até animal. O que não a torna menos destrutiva, em especial para os que podem escolher racionalmente suas ações como nós, homo sapiens sapiens. Todos nós sentimos inveja e isso deve ser encarado como algo normal; o que não deve ser normal é ser invejoso, como um estilo de vida, ou se deixar corroer por esse sentimento, mesmo sem perceber. Eu sei, é difícil, somos seres competitivos no mundo e as coisas estão muito mais disputadas e narcisísticas hoje em dia, com as redes sociais e a Era Digital hiperativa que exige desempenho máximo dos sujeitos.

Na história do cristianismo (que não é necessariamente uma religião, como muitos pensam, mas um caminho ensinado por Jesus Cristo), o que teria derrubado o anjo mais belo foi a inveja, de Deus e da Coroa da Criação, o humano que veio do barro e foi criado para ser servido por seres celestiais como aquele que caiu e veio a se tornar Satanás. Já derrotado na batalha contra o arcanjo Miguel, nos Céus, fez com que Adão e Eva tivessem inveja e cobiça em relação a Deus, mesmo que o Criador conversasse com eles, pessoalmente, todos os dias em um jardim magnífico onde nada lhes faltava e eram imortais. A inveja sempre foi uma serpente venenosa, e esse foi um exemplo disso.

Mas o fato de ser intrínseca à natureza humana, não impede o dever que temos de a combater, em nós mesmos e quando somos suas vítimas. Para muitos, é fácil ter inveja, não é necessário ser a Gisele Bündchen ou Rodrigo Hilbert.

E outro fato é que percebemos a inveja mais nos outros do que em nós mesmos, como de praxe em nossa visão humana, demasiado humana que é egocêntrica. Sentimos inveja, alguém sente inveja de nós, poucos ou muitos, por motivos variados, e aceitar esse fato é libertador.

Porém, quero destacar que a inveja pode ter efeitos nefastos sobre quem a sente e sobre quem é alvo dela. “É como tomar veneno esperando que o outro morra”, como diz o ditado. Segurar uma faca pela ponta, esperando ferir o adversário com o cabo. Ou seja, quem sente inveja, no fim acaba levando a pior. Mas quem é invejado pode ser atingido, como em muitos casos de bullying, calúnia, julgamentos e maldade.

Sobre “não ligar para a inveja”, “tô nem aí”, “falem o que quiserem”, será que é uma realidade para você, para mim? Todos nós temos nossos pontos fracos, e os invejosos irão utilizá-los para nos ferir. Ademais, ser invejoso denuncia uma vida de frustração, ainda que coberta de arrogância fragilmente disfarçada. Ter inveja, ok, ser invejoso, não. Faz muito mal para nossa saúde física e mental.

Pessoas sábias e maduras, e geralmente por isso bem-sucedidas, são alvos constantes de inveja, por exemplo, das hordas de ódio e preconceito nas redes sociais. Elas sabem ignorar, ou fingir que ignoram, sem “devolver na mesma moeda”. É um treinamento espartano adquirir essa atitude de autoproteção e inteligência emocional, dia a dia, vida a vida – exceto para quem realmente não se importa com nada, nem com ninguém além de si mesmo, para quem tem um ego cegante que não permite que nada lhe atinja lá do alto.

E é assim que quero terminar: é perigoso ignorar totalmente os invejosos, digo, não se importar de verdade. Às vezes, eles podem, muito a nosso contragosto, nos revelar coisas que precisamos mudar de fato. Às vezes, nos ensinam a não sermos como eles. E às vezes, por favor, nos ensinam a ter resiliência, amor-próprio e a saber quem somos. Por isso, atenção às críticas: boa parte delas é lixo de invejosos e frustrados, mas pode não ser. A triagem entre uma coisa e outra exige autoconhecimento.

Precisamos aprender a lidar com a inveja, em nós e nas outras pessoas. O Brasil hoje, por exemplo, é um “barril de pólvora” polarizado e cheio de frustração – que leva à inveja extremada e desenfreada. O Brasil é um país de invejosos? Sim, eu acho que é, mais do que nunca. “Gente feliz não enche o saco”, diz o ditado, “cão que muito late não morde”, ou seja, os perseguidores contumazes da vida alheia não passam de invejosos frustrados. Mesmo que tenham fama, dinheiro (aparentemente) e uma aparência destacada. Não sejamos eles. Gente chata, implicante, dona da razão.

Busque seu brilho próprio – vai atrair muita inveja, mas lhe tornar um ser humano melhor, com menos inveja e mais empatia.

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