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Pioneiro da música gaúcha, Honeyde Bertussi completaria 100 anos nesta semana

Centenário do artista será marcado por diversas homenagens ao longo de 2023    |   GABRIEL MARCHETTO

Um dos pilares da música regional gaúcha, Honeyde Bertussi (1923-1996), completaria 100 anos nesta segunda-feira, 20. O legado do acordeonista que, ao lado do irmão Adelar, revolucionou o uso do instrumento no Sul do Brasil, será celebrado com diversas atividades ao longo de 2023, a fim de homenagear sua trajetória construída como instrumentista, cantor e compositor.

Uma destas homenagens se deu ainda no ano passado, com a escolha do tema do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) para 2023. “Minha gaita conta a história”, que tem os 100 anos de Honeyde como uma das três justificativas, junto com os 60 anos do álbum Baile Gaúcho, de Tio Bilia, e os 80 anos da música Adeus, Mariana, de Pedro Raymundo. A partir da definição em congresso, cada Centro de Tradições Gaúchas (CTG) pode prestar seu próprio tributo, seja nos rodeios, nas datas comemorativas ou demais oportunidades de celebrar a cultura regional ao longo do ano.

Ao avaliar o legado deixado pelo pai, o arquiteto Paulo Bertussi, um dos oito filhos de Honeyde, considera como principal herança deixada para a música gaúcha a realização daquele que foi o maior objetivo em vida do filho ilustre de São Jorge da Mulada, no distrito de Criúva: elevar o acordeom à primeira prateleira dos instrumentos musicais. “O grande legado que ele deixa é acreditar nas possibilidades do acordeom como instrumento. Porque, para o meu avô (Fioravante Bertussi), que era clarinetista e regente da banda distrital, a música exigia uma solenidade. Tu olhas as fotos e os músicos estão de “fatiota”, como se chamava o terno na época. O acordeon era visto como um instrumento de segunda linha. Tu podias tocar para se divertir, para fazer farra, mas nunca para ser uma profissão. Creio que tudo o que meu pai fez como músico tinha por trás esse objetivo maior, que era o de tornar a gaita respeitada, como de fato ela se tornou”, destacou.

Do samba campeiro ao bugio

Além do gênio criativo que viria contribuir para a criação do primeiro e ainda único ritmo musical genuinamente gaúcho, o bugio, a determinação foi outra marca do filho de Doravante e de Jovelina Siqueira. Desde os anos em que percorria mais de 60 km a cavalo até Caxias para tomar as primeiras lições do acordeon, passando pelo auge vivido ao lado do irmão, nas décadas de 1950 e 1960, e também na década seguinte, quando formaria conjuntos com o filho, Daltro, e com o primo, Paulo Siqueira, Honeyde teve a disciplina como marca.

Desde a primeira música, Cancioneiro das Coxilhas, composta em novembro de 1942 e marcada na partitura como um “samba campeiro” – justamente pela falta de uma identidade própria para a música produzida no Rio Grande do Sul à época – Honeyde mostrou que não chegaria na cena musical para ser só mais um. Fosse através das notas que tocava ou das palavras que escrevia, ele estava disposto a mostrar algo novo.

Paulo Bertussi considera ainda que a combinação de talento e esforço não dá conta de explicar o sucesso do pai. É preciso também aquilo que o arquiteto chama de convergência de fatores, que podem ser interpretados como mera coincidência ou vontade do destino. Um deles é a dissolução da banda familiar liderada por Fioravante, Dois Purungos Acoierados, que levou Honeyde e Adelar a formar uma dupla quase que por necessidade. Outra, que ajuda a compreender a sonoridade única alcançada pelos irmãos Bertussi, foi o acesso a uma novidade que abalou a Criúva nos anos 1930.

Como bom arquiteto, Paulo considera ainda como uma característica que ainda distingue a chamada “música Bertussi” o que chama de ‘paisagismo” nas composições de Honeyde e Adelar. “Se fores analisar as primeiras músicas, principalmente, são músicas paisagísticas. Tu escutas e tu estás vendo o local que eles estão escrevendo. Isso faz com que as pessoas marquem mais facilmente na memória, como se fosse um lugar que elas visitaram. Hoje tu escutas uma música e logo depois já esqueces dela, talvez por não ter essa ligação do próprio autor com a realidade que ele está descrevendo. Especialmente quando se fala da lida campeira, Honeyde e Adelar tinham muita propriedade e aquelas histórias vividas saiam nas vozes deles”, salientou.

Se o distrito Criúva pertencia a São Francisco de Paula até 1954, quando foi incorporado a Caxias do Sul, nada mais justo que os dois municípios possam festejar o centenário de um dos seus filhos mais ilustres. Em janeiro, São Chico uniu as festividades pelos seus 120 anos de emancipação política à comemoração pelo centenário de Honeyde, com exposição fotográfica e baile.

A saga de um gaiteiro

1923
No dia 20 de fevereiro, na localidade de Rincão da Mulada, distrito de Criúva, nasce Honeyde Bertussi. É um dos quatro filhos de Fioravante Bertussi e Jovelina Siqueira (Valmor, Wilson e Adelar são os irmãos).

1942
Ao completar 18 anos, Honeyde compra o seu primeiro acordeom. Quarenta dias depois, toca no primeiro baile. No final daquele ano, assinaria a sua primeira composição, “Cancioneiro das Coxilhas’”. A música viria a ser um sucesso tão grande que seu autor passou a ser conhecido também por esse apelido.

1949
Após o fim da banda Dois Purungos Acoierados, Honeyde e Adelar passam a se apresentar em dupla. O nome “Os Irmãos Bertussi” foi dado após o radialista Álvaro de Aquino, de Erechim, assim se referir aos irmãos, que foram se apresentar no estúdio. Entre as inovações trazidas pelos irmãos estão o fato de formar um duo com dois acordeons.

1954
Durante viagem ao Rio de Janeiro, Os Irmãos Bertussi gravam o seu primeiro disco Long Play, intitulado Coração Gaúcho. Além da faixa-título, o álbum traz também músicas que se tornaram grandes sucessos da dupla, como Mistura Fina e Adeus, Moçada. Ao longo dos próximo 10 anos a dupla lançaria um total de 10 discos.

1965
Ano que marca o encerramento da dupla formada com Adelar. O último show foi em 21 de março, no encerramento da 8ª Festa da Uva, em Caxias do Sul, diante de 40 mil pessoas.

1967
Com o filho, Daltro, e posteriormente também com o primo, Paulo Siqueira, Honeyde dá continuidade à carreira com o grupo Os Bertussi. “Velha Porteira” (1973) e O Tempo e a Vida (1975) são alguns registros dessa época.

1979
Honeyde passa a lançar álbuns solo, mas sempre em parceria com algum outro acordeonista, como Acioly Machado e Oscar dos Reis.

1996
Honeyde Bertussi morre em Caxias do Sul, no dia 4 de janeiro, aos 73 anos. Ele não resistiu a complicações após uma cirurgia cardíaca.

1998
O então vereador Francisco Spiandorello institui a Medalha Honeyde Bertussi, com o objetivo de reconhecer personalidades que contribuem com a conservação da cultura gaúcha em Caxias do Sul.

2002
A composição São Francisco é Terra Boa, lançada originalmente no álbum Coração Gaúcho (1955) é oficializada como hino de São Francisco de Paula, terra natal de Honeyde e Adelar Bertussi (o distrito de Criúva só seria anexado a Caxias em 1954).

2008
É inaugurado no distrito de Criúva o Memorial Irmãos Bertussi, que eterniza os irmãos Honeyde e Adelar em estátuas de bronze voltadas para o casarão da Fazenda Bertussi, na Mulada.

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