Delegações da Rússia e da Ucrânia iniciaram nesta segunda-feira (28) as primeiras negociações desde o início da invasão, há cinco dias, pelas tropas de Moscou. Enquanto isso, a ofensiva prossegue apesar do pedido do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky por um cessar-fogo “imediato”.

“Rússia e Ucrânia estão mantendo as primeiras conversações”, afirmou a agência de notícias bielorrussa Belta sobre as negociações, que acontecem na região de Gomel, em Belarus, perto da fronteira com a Ucrânia, e que coincidem com o aumento da resistência de Kiev ao avanço das tropas de Moscou.

A invasão russa provocou uma série de sanções dos países ocidentais e seus aliados, que incluem bloqueios ao acesso do sistema financeiro, assim como o fechamento do espaço aéreo para os aviões russos. Muitos países ofereceram armas à Ucrânia, mas insistiram que não se envolveriam militarmente no conflito.

Zelensky, com uma forte presença midiática durante a crise, também pediu à União Europeia (UE) que admita de maneira imediata seu país no bloco, mas em Bruxelas “há opiniões diferentes” a respeito, respondeu o presidente do Conselho europeu, Charles Michel.

O principal negociador russo, Vladimir Medinski, afirmou que seu país “busca um acordo”, mas o Kremlin destacou que não revelaria sua posição antes das negociações.

Sem vitória contundente

No campo de batalha, os ucranianos parecem aumentar a capacidade de resistência diante dos russos, que não conseguem anunciar nenhuma vitória contundente. Nesta segunda-feira, as autoridades ucranianas afirmaram que os russos tentaram durante várias oportunidades durante a madrugada um ataque contra a capital, sem sucesso.

O exército russo afirmou que os civis podem sair “livremente” de Kiev e acusou o governo ucraniano de utilizá-los como “escudos humanos”. De acordo com o Estado-Maior da Ucrânia, Moscou “desacelerou o ritmo da ofensiva”.

O balanço do conflito continua incerto. A Ucrânia informou que 200 civis e dezenas de militares morreram desde quinta-feira, incluindo 16 menores de idade. A ONU registrou 102 mortes de civis, incluindo sete crianças, e 304 feridos, mas advertiu que os números reais podem ser “consideravelmente” maiores.

O presidente russo, Vladimir Putin, afirma que as ações russas são necessárias para defender os separatistas pró-Moscou do leste da Ucrânia. Os insurgentes enfrentam o governo ucraniano há oito anos, um conflito que já provocou 14.000 mortes.

No domingo, a Rússia admitiu pela primeira vez que o país sofreu perdas humanas no conflito, mas não divulgou um balanço e insistiu que tem a “supremacia aérea” em toda Ucrânia.

As negociações e o conflito estão marcados pela ameaça apresentada no domingo por Putin, que ordenou que as forças de dissuasão nuclear sejam colocadas em alerta máximo. O governo dos Estados Unidos classificou a ordem de Putin como “totalmente inaceitável” e o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, chamou a atitude de Moscou de “irresponsável”.

O êxodo continua e, segundo a Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) desde quinta-feira quase 500.000 pessoas fugiram para os países vizinhos. A UE prevê que o conflito deixará sete milhões de deslocados.

A maioria dos refugiados viajou para a Polônia, país vizinho que tem uma importante comunidade de imigrantes ucranianos, mas outros seguiram para Romênia, Eslováquia e Hungria. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que é conhecido por suas posições contrárias aos imigrantes, flexibilizou as restrições contra os demandantes de asilo durante o fim de semana e na fronteira os húngaros tentaram confortar os deslocados, com refeições e ofertas de alojamento.

Na passagem de fronteira de Medyka, na Polônia, Katarzina Jasinska, de 25 anos, entregou um casaco a um ucraniano. “Chegaram sem nada e apenas com a roupa do corpo. Estavam fugindo e não tiveram tempo de pegar nada além do que estavam vestindo”, disse, com lágrimas, a técnica veterinária.

Em todo o mundo, centenas de milhares de pessoas se manifestaram no fim de semana com bandeiras ucranianas para rejeitar a invasão russa e, nas redes sociais, muitas pessoas mostraram seu apoio a Kiev com a bandeira ucraniana em seus perfis.

As sanções contra Moscou provocaram uma forte queda nos mercados russos e o rublo registrou forte desvalorização na abertura, o que forçou a suspensão das Bolsas. Para apoiar a economia nacional, o Banco Central da Rússia elevou a taxa básica de juros em 9,5 pontos, a 20%.

Além disso, o BC russo informou que a filial europeia do Sberbank enfrenta o risco de falência. No plano político, os meios de comunicação estatais russos RT e Sputnik foram proibidos e ainda se aguarda uma resposta do Kremlin diante da escalada de sanções.

Uma consequência crucial do conflito é o impacto no preço do petróleo: tanto o barril do tipo Brent como o barril WTI operavam em alta diante do temor de crise energética.

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