Uma vizinha e mãe de um colega de escola de Kerollyn Souza Ferreira, de 9 anos, revelou em entrevista à RBS TV nesta terça-feira (13) que acionou o Conselho Tutelar “mais de 20 vezes” em relação à situação da criança. Na sexta-feira (9), Kerollyn foi encontrada sem vida em um contêiner de lixo em Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Fernanda Cardoso, dona de casa e vizinha da menina, relatou que Kerollyn frequentemente pedia carinho e comida aos moradores locais.
“Eu liguei mais de 20 vezes, implorei para que eles resolvessem. Enviava fotos da criança, mandava tudo. Ela estava na chuva, pedindo ajuda. Vivia na minha porta pedindo água, abraço, beijo”, contou Fernanda.
Em uma mensagem de áudio enviada a Fernanda no dia 2 de agosto, a conselheira tutelar Ieda Lucas respondeu que a situação estava sendo acompanhada. No entanto, Kerollyn foi encontrada morta uma semana depois.
“Estamos acompanhando a situação. O Conselho está ciente, e a mãe está tomando as providências. Estamos fazendo todas as medidas possíveis, ok? Obrigada”, disse Ieda.
A reportagem tentou contato com o Conselho Tutelar de Guaíba nesta terça-feira (13), mas não obteve resposta até o momento.
Outros relatos
Pelo menos outros três vizinhos também denunciaram o caso ao Conselho Tutelar de Guaíba. Eles relataram que a mãe de Kerollyn frequentemente gritava e ofendia a menina. Uma das vizinhas afirmou ter ouvido o que parecia ser um pedido de socorro vindo da residência da família.
Os relatos indicam que Kerollyn cuidava de seus irmãos menores e frequentemente pedia comida e carinho nas ruas.
“A menina era como uma adulta. Cuidava dos irmãos pequenos e buscava comida na rua”, disse um vizinho que preferiu não ser identificado.
Outra vizinha, também sob condição de anonimato, confirmou a situação: “Ela passava na frente das casas pedindo comida e abraço.”
Prisão da mãe
A mãe de Kerollyn, Carla Carolina Abreu Souza, está em prisão temporária, sendo suspeita de ter contribuído para a morte da filha, segundo a Polícia Civil.
“A filha vivia solta, abandonada, e muitas vezes dormia em um carro abandonado perto de casa e da escola”, declarou o delegado Fernando Sodré, chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul.
A reportagem também tentou contato com a Defensoria Pública do RS, que representa Carla, mas não obteve resposta até o momento.
De acordo com o Tribunal de Justiça, depoimentos e documentos apresentados pela polícia sugerem que a mãe submetia Kerollyn a intenso sofrimento físico e mental. A investigação aponta que a menina era vítima de negligência e agressividade extrema, caracterizando maus-tratos, abandono de incapaz e tortura, conforme analisado pelo juiz João Carlos Leal Júnior.
