Em um vídeo que teria sido gravado de dentro da Penitenciária Estadual de Sapucaia do Sul, um grupo de detentos aparentemente confronta um ex-aliado, questionando-o sobre sua decisão de abandonar a antiga facção criminosa e se juntar a um grupo rival. O vídeo mostra os presos reunidos ao redor de um celular com a função de viva-voz ativada, enquanto tentam obter explicações desse indivíduo.
A resposta do ex-aliado é clara: “Não mudei de lado. A caminhada é minha agora, não tem bandeira […] Eu fiquei milionário, essa é a caminhada”.
De acordo com as autoridades de segurança, o indivíduo que se autodenominou milionário é Maicon Donizete Pires dos Santos, de 32 anos, também conhecido como ‘Red’. Ele é o principal alvo de uma operação policial chamada “Golpe de Estado”, que foi deflagrada pela Polícia Civil na segunda-feira.
Supostamente, Red é o pivô de um conflito entre facções criminosas no bairro Mário Quintana, na zona Norte de Porto Alegre. A operação já resultou na prisão de 14 alvos e na apreensão de um veículo e R$ 13 mil. No entanto, até o momento da publicação desta reportagem, Red ainda não havia sido preso.
O chefe de Polícia, delegado Fernando Sodré, explicou que houve um rompimento dentro da facção, o que levou a um novo grupo e, consequentemente, a um conflito armado. Esse conflito foi o motivo pelo qual a operação foi chamada de “Golpe de Estado”.
Segundo as autoridades, pelo menos sete mortes estão relacionadas a esse conflito, que teve início no final de setembro. Foi constatado que Red não estava exagerando quando mencionou seus ganhos financeiros durante a chamada com os outros detentos. De acordo com o Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc), a facção no bairro Mário Quintana movimentava cerca de R$ 1 milhão por semana com o tráfico de drogas.
As drogas eram adquiridas diretamente de países produtores, como Paraguai, Bolívia e Peru, e distribuídas em grande escala, não apenas na região de Porto Alegre, mas também para o interior do estado. No entanto, a divisão dos lucros levou à ruptura interna na facção.
Segundo os investigadores, o poder de Red começou a crescer após a prisão de José Dalvani Nunes Rodrigues, conhecido como ‘Minhoca’, que foi preso em 2016 em Ciudad del Este, no Paraguai, e transferido para a Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, em 2017.
Com Minhoca fora do estado, o irmão dele, Wagner Nunes Rodrigues, também conhecido como ‘Minhoquinha’, passou a liderar o tráfico no bairro Mário Quintana. Wagner foi preso em 2011 e, embora tenha sido transferido para o Sistema Penitenciário Federal em 2017, ele retornou dois anos depois, sendo enviado para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), onde continuou liderando a facção.
Mesmo estando atrás das grades, Red atuava como gerente do tráfico sob a liderança de Minhoca e Minhoquinha. No entanto, em 21 de setembro, ele anunciou que estava abandonando o grupo e formaria sua própria facção, chamada ‘Comando Nova Geração’. Red também tinha a intenção de unir forças com criminosos de outras áreas, como a Vila Cruzeiro, na zona Sul, a Vila Jardim e o Loteamento Timbaúva, na zona Norte, a fim de expandir a influência de uma nova facção denominada ‘Família do Sul’.
Até o momento, Red permanecia foragido, e três líderes dos grupos mencionados foram interrogados na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas. No entanto, todos negaram qualquer envolvimento no conflito em curso.
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