Hoje, 2 de agosto de 2024, 18h55, entre os 7 primeiros colocados no ranking de medalhas das Olimpíadas de Paris em 2024, temos 3 países orientais; e, entre os 15, temos 4. Todas essas nações do lado de lá do mundo se caracterizam pela predominância de medalhas de ouro entre as que conquistaram. Eles, os orientais, cuja cultura preza pela entrega total, disciplina, controle emocional e honradez, à família e ao país.
Os orientais, em geral, são respeitosos, educados, esforçados e determinados, e tem esta questão de honra. Quando o Titanic afundou, em 1912, sabe-se que um japonês, por não ter se sacrificado, dando lugar a mulheres e crianças, foi recebido com hostilidade em seu país, e assim viveu vilipendiado o resto de sua vida. Os orientais são muito sérios e rígidos com a honra e a sociedade. Pelo lado negativo, a autocobrança e a exigência social, tão tradicionais, são tamanhas, que ocorrem muitos suicídios entre os do Extremo Oriente, por motivos como tirar notas baixas na escola ou na faculdade, ou não atingir um intento. Assim, “envergonham seu país e sua família”, “manchando a própria honra”. Isso é da cultura deles, que têm de provar seu valor, desde a época dos antigos samurais, e há os senseis e diferentes títulos honrosos nas sociedades orientais. A família é, como mencionamos, muito protetora e nacionalista: issei são imigrantes japoneses, nissei, filhos de japoneses, sansei, seus netos e yonsei, seus bisnetos, aonde quer que estejam no mundo.
Assim, como os orientais primam pela honra e são muito nacionalistas e tradicionais, o ouro é uma forma de honrar sua Nação, sua família, a sociedade e mostrar seu valor, sua dedicação e sua resiliência. São guerreiros natos desde a Antiguidade. Se você for ver, as Olimpíadas, que começaram lá na Grécia, são feitas de “soldados”, lutadores, adversários buscando condecorações, como em uma guerra – só que sem sangue e genocídio. É uma disputa entre os países, algo que ocorre há séculos e até milênios, como na Copa do Mundo e em outras competições esportivas. No futebol, até os Estados, no Brasil, duelam por superioridade na tabela, embora haja rivais das mesmas unidades federativas e até cidades, casos de Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre.
Mas eu falava das Olimpíadas de Paris. Neste momento, a China lidera o quadro de medalhas, com 13 ouros, 9 pratas e 9 bronzes. O Japão, que já foi líder, é o sexto com 8 ouros, 3 pratas e 6 bronzes. Já a Coreia do Sul, que já foi vice-líder, é sétima com 7 ouros, 5 pratas e 4 bronzes. E, 15o, Hong Kong tem 2 ouros, 0 pratas e 2 bronzes. É claro que os Estados Unidos sempre vão bem e devem melhorar, investem bilhões em atletas, e também eles buscam a excelência em sua cultura de “loosers” e “winners”, sob um exacerbado orgulho – muitas vezes até prepotência. Ainda, a vice-líder no quadro de medalhas, a França, vem surpreendendo, com 11 ouros, 12 pratas e 13 bronzes, sede das Olimpíadas: devem ter investido mais em seus atletas dessa vez, em sua casa, sua Nação,, embora em um momento de instabilidade política. E há os esforçados e vigorosos australianos se destacando, e os disciplinados bretões, e a Itália e os Países Baixos.
E o Brasil?
O Brasil estava em 32o lugar até poucas horas, quando… Quando Bia Souza, nascida Beatriz Souza, em sua primeira Olimpíada, aos 26 anos, ganhou enfim o primeiro ouro para o Brasil. Subimos mais de dez posições: agora, estamos em 19o, com 1 ouro, 3 pratas e 3 bronzes. Bia Souza deve ser ovacionada, se tornar uma estrela. Muitos dos favoritos ao pódio e até ao ouro, em 2024, soçobraram. Não é uma boa Olimpíada para o Brasil, infelizmente. E não cabe a nós julgarmos os atletas, mas a falta de suporte financeiro e estrutura que eles têm no nosso país, isso sim.
Ademais. Reconheço o esforço dos brasileiros que ganharam medalhas, devem ser parabenizados(as), em um país que investe tão pouco em atletas e onde o orgulho de ser brasileiro vem diminuindo com crises governamentais e morais, rachas na sociedade repleta de extremistas, endemia de violência, corrupção, fake news, distorções, falta de Educação (e educação), de oportunidades, de possibilidades de empreendedorismo. Até a bandeira do Brasil chegou a se tornar ofensiva para muitos, um símbolo do bolsonarismo, que foi e é um movimento nacionalista de resgate do orgulho nacional, do povo brasileiro, do verde e amarelo, embora acusado de muitas tramoias e recheado de certo extremismo, como seus adversários da Esquerda. (Não, não sou bolsonarista, tampouco tenho políticos de estimação, mas estou tentando racionalizar.) Ser Centro, e não extremo, no Brasil, é ser “isentão”, como muitos “pseudointelectuais” adoram falar, eles que deviam ser tão ponderados. É perigoso o fanatismo cegante e que protege ideologias muitas vezes sem prática e pouco democráticas, pouco favoráveis ao povo, que é quem manda em uma democracia conforme a Lei democrática.
Mas eu falava, ainda, das Olimpíadas de Paris e do Brasil nas Olimpíadas. Vários foram os casos de descontrole emocional ou falta de suporte a atletas brasileiros, que levaram a quedas (no sentido físico e em classificação), houve a expulsão e o choro da craque Marta, o Pelé do futebol feminino, vários resultados aquém do esperado, teve até uma atleta brasileira expulsa por indisciplina, uma prancha de surf brasileira – o surf é sempre um dos nossos ouros mais prováveis – fora das normas que teve de ser trocada. Não estamos bem, mas muitos brasileiros acompanham com avidez seu país nas Olimpíadas, ansiando por medalhas, e principalmente a sonhada medalha de ouro. E ela veio. Ela veio hoje, e não quero nem posso menosprezar esse fato. Outras ainda podem vir, ou não. Mas o ouro veio, como outras pratas e bronzes, e estamos um tanto orgulhosos. Bia Souza, medalha de ouro, enfrentou muitas dificuldades, como a grande maioria dos atletas brasileiros, sem respaldo financeiro e estrutural para treinar.
Mas aqui fica uma ponderação: o quadro de medalhas reflete a crise moral e o desequilíbrio daquele que é considerado o “País da Ansiedade” pela OMS? A crise econômica? O descaso com nossos atletas pelo governo, com certeza. Temos muitos talentos no Brasil, no esporte, na literatura, nas artes, mas poucos são incentivados, inclusive financeiramente. Poucos são “escolhidos”.
Somos um país conhecido historicamente como “país de bananas”, que nunca se embrenhou em grandes lutas ou guerras para conquistar seus direitos, explorados desde 1500. Sempre houve um Estado exploratório e por demais falacioso. E o povo se acostumou a isso, a estar à sombra dele.
Enfim, pode ser que nossas poucas, mas valorosas medalhas, e um baixo desempenho em Paris, sejam reflexo da crise que o Brasil atravessa, que nós brasileiros atravessamos. Falta disciplina. Falta controle emocional. Falta investimento econômico e social no esporte, no povo, e faltam condições econômicas para investir. Falta até orgulho de ser brasileiro. Falta, mas ainda existe. Porque o brasileiro sempre teve orgulho de ser brasileiro, é único em qualquer lugar do mundo aonde vai, e sabe que é, é dos memes, é da boa conversa, da diversidade, e já deu inúmeros talentos ao mundo. Embora nunca tenha ganhado sequer um prêmio Nobel. Então, para nós, ganhar um ouro, ou mesmo uma medalha, parece e é difícil para nós. Mesmo conseguir estar nas Olimpíadas, sendo brasileiro, pelo Brasil, é ser herói ou heroína.
Precisamos repensar, sim, mais uma vez, o suporte governamental e soscial aos atletas brasileiros, e a honra do Brasil que está arranhada pela política e por digladiações sociais e morais. Tudo tem parecido difícil no país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. Que tristeza. Mas conseguimos o ouro, e prata e bronze. Bia Souza. Grave esse nome. E de todos aqueles que ganharam medalhas, chegaram a Paris para a disputarem e orgulharam o Brasil, que anda tão carecido de orgulho de si mesmo.