Em 2022, o Brasil testemunhou um aumento alarmante nas internações de bebês devido a problemas respiratórios, com um aumento de 24% em comparação com o ano anterior. Ao todo, foram registradas 152.951 internações de bebês menores de um ano por pneumonia, bronquite e bronquiolite no Sistema Único de Saúde (SUS) ao longo do último ano, o que equivale a uma média de 419 internações por dia. Esses dados são parte de um estudo conduzido pelo Observatório de Saúde na Infância, uma iniciativa conjunta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Centro Universitário Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis (Unifase/FMP).
Utilizando informações do Sistema de Internações Hospitalares do SUS desde 2008 até 2024, o levantamento revelou que 2023 registrou o maior número de internações da última década e meia. “É o maior número registrado nos últimos 15 anos”, destacou um comunicado da Fiocruz.
Cristiano Boccolini, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz (Icict/Fiocruz), explicou que houve uma queda contínua nas internações até 2015, seguida por uma estabilização relativa entre 2016 e 2019. A partir de 2020, houve uma queda significativa devido à pandemia de Covid-19, mas desde então os números têm aumentado consistentemente.
“Em 2020, durante o primeiro ano da pandemia de Covid-19, observamos uma queda drástica de 300% nas hospitalizações, a menor taxa da série histórica. No entanto, desde então, temos observado um aumento anual nas taxas de hospitalização dessas crianças, atingindo o pico em 2023. Entre 2022 e 2023, houve um aumento de 30 mil internações de bebês com menos de um ano por essas causas”, explicou Boccolini.
Ele apontou a baixa cobertura vacinal infantil e as mudanças climáticas como principais fatores para esse aumento. Boccolini destacou a importância da vacinação de gestantes, que ajuda a fortalecer a imunidade dos bebês desde o nascimento, reduzindo o risco de internações por doenças respiratórias.
“Mulheres grávidas vacinadas contra influenza e Covid-19 transmitem imunidade para seus bebês, proporcionando-lhes os anticorpos necessários para combater essas infecções desde os primeiros meses de vida”, ressaltou o pesquisador.
O estudo também revelou que o SUS gastou aproximadamente R$ 154 milhões no último ano para tratar bebês hospitalizados, um aumento de cerca de R$ 53 milhões em relação a 2019.
Análises regionais indicam que as regiões Sul e Centro-Oeste apresentaram as maiores taxas de internação em 2023, devido ao clima extremo que favorece condições respiratórias adversas para as crianças. O frio intenso no Sul e as queimadas associadas ao clima seco no Centro-Oeste foram destacados como contribuintes significativos.
“A incidência de eventos climáticos extremos, como o frio intenso e as queimadas, aliada à presença de poluentes atmosféricos, aumenta o risco de hospitalização de bebês por pneumonia e bronquites nessas regiões”, observou Boccolini.
Além da cobertura vacinal insuficiente contra influenza e das mudanças climáticas, a baixa procura por vacinas contra a Covid-19 para bebês com seis meses ou mais também influencia o cenário de internações. Boccolini enfatizou a importância da imunização contra a Covid-19 para essa faixa etária, visto que a infecção pode aumentar o risco de desenvolvimento de outras doenças respiratórias.
“Continuamos a observar uma cobertura vacinal baixa, especialmente entre crianças com seis meses ou mais, que são elegíveis para a vacinação contra a Covid-19. A infecção por Covid-19 pode predispor as crianças a outras infecções virais, como pneumonia e bronquite”, alertou o pesquisador.
