Controlar seus próprios pensamentos, e principalmente atos, certamente é um dos segredos de uma vida bem vivida. Facilita a chegada – dura, íngreme, resiliente – ao sucesso, bem ancorado na maturidade e sabedoria, não apenas no status, no dinheiro, nas aparências.
O Brasil não é conhecido como um país de pessoas que têm muito autocontrole. Antes, para o bem e para o mal, os tupiniquins são em sua maioria emocionais, emotivos, inflamados, muitos são extremistas e preconceituosos, prepotentes e agressivos. Apesar disso, temos uma História infeliz de dominação da elite e pouca participação popular no nosso país, ainda que na democracia, ou quando tentávamos conquistá-la. Ao contrário, por exemplo, dos povos europeus e norte-americanos, repletos de guerras, revoluções, inconformidade, ainda que em sua conhecida gelidez e disciplina.
Então, autocontrole não significa passividade, inércia ou impotência. Autocontrole é inteligência emocional. Inteligência emocional é autoconhecimento e conhecimento do outro, da sociedade, da natureza humana, do mundo.
Alguns são dotados de maior facilidade para controlar seus impulsos, genética ou culturalmente, ou adquiriram essa habidade pela experiência. E eu sei, há momentos em que é “agora ou nunca” e precisamos de decisões ou atitudes rápidas, mas autocontrole nunca fez tanta falta, em uma sociedade cujos maiores pilares – igreja, escola e família – estão em reestruturação. E não digo isso em sentido necessariamente negativo.
É fato que, como nas teorias da Modernidade Líquida do polonês Zygmunt Bauman, a maioria de nós está um pouco perdido, são muitas possibilidades, facilidades que não havia em outras eras. Liberdade não é fazer o que quiser, ser o que quiser (ao menos em certos sentidos), mas alcançar o autocontrole e saber bem o que quer e o que não quer na sua vida. É ter uma mente e um coração abertos, não viver acorrentado a uma pretensa frieza e omissão necessárias à autoproteção.
O segredo é ter sabedoria, mais uma vez. Exige sofrimento, aprendizado com humildade, atenção, coragem, reflexão, ação e pensamentos unidos para decidir.
Vamos errar inúmeras vezes, e, você sabe, as pessoas vão se lembrar quase sempre mais dos seus erros que dos seus acertos. Autocontrole passa longe da perfeição, da ilibação total, impossível, embora nunca antes tão buscada na sociedade das máquinas superpotentes. Porem, o autocontrole anda de mãos dadas com a paz de espírito, ou a busca dela, evitando brigas, desentendimentos, arrependimentos, mágoas. Infringir a Lei. Os próprios princípios e crenças. Esperar o momento certo.
Ninguém é de ferro, temos um coração batendo. Bem, ao menos aqueles que não são clinicamente psicopatas, incapazes de sentir culpa, medo ou empatia – sentir. Apesar de que fingem muito bem.
Como disse o brilhante escritor norte-americano Mark Twain, coragem não é ausência de medo, mas enfrentar o medo. Assim, autocontrole não é ausência de sentimentos, pulsões, vontades muitas vezes draconianas, tudo isso é natureza humana. Autocontrole é um processo para a vida toda. É equilíbrio, o que não precisa nos tirar da intensidade de sentir, se emocionar, se divertir, te as inevitáveis incertezas da vida.
Meu conselho para nós que queremos melhorar como seres humanos, é procurar o autocontrole e o autoconhecimento. Cada um tem seus caminhos, sejam pelo amor ou pela dor.
A vida são escolhas, diz o venho clichê. Respirar fundo e contar até dez, resistir, mesmo que se rasgando por dentro, para evitar o pior, tentar se colocar no lugar do outro, ver de diferentes ângulos. Saber o que fazer com nossos sentimentos e nossas emoções, quando, por que, sim, não, esperar.
Ninguém vai conseguir sempre acertar. Evitar. Controlar a si mesmo. Falo em prevenir certas situações, muito melhor que remediar, remendar, estragar, ofender. Às vezes não tem remédio, às vezes o tempo ajuda – vai saber? Esforçar-se para ser realmente livre é escorçar-se para ter domínio próprio, na medida do possível.
