Por que precisamos cada vez mais de remédios para ter saúde mental?

Você conhece quantas pessoas que não precisam ou nunca precisaram de um remédio “para a cabeça”? Não falo de loucos, mas de pessoas com transtornos da mente. E você, depende de algum medicamento psiquiátrico?
Eu me arrisco a dizer que, após a pandemia, o mundo nunca  mais será o mesmo. Ficamos mais inseguros, entendemos melhor a fragilidade da vida, muitos de nós cravejados de perdas, sequelas, questionamentos. São os tempos líquidos do filósofo polonês Zygmut Bauman (in memoriam), que se tornaram ainda mais fluidos, incertos, impossíveis de se deixarem reter nas mãos, no coração. Tudo flui muito rápido e, em geral, caoticamente. O que valia ontem, hoje não vale mais.
Mas, antes mesmo da pandemia, os tempos líquidos – termo cunhado por Bauman, como citado – já vinham nos tornando uma “geração da corda bamba”. Nunca se teve tanta informação (e desinformação) sobre saúde mental e saúde em geral, mas, veja: acredito que nunca existiram tantos casos de ansiedade, depressão, problemas psiquiátricos, usos e vícios em substâncias legais e ilegais. 
Estamos meio que tateando no escuro, ou na penumbra das sombras das nossas cavernas de Platão. Porque, apesar do status nas redes sociais, das aparências, da “positividade tóxica”, #gratidão, acredito que estamos cada vez mais solitários. Por dentro, lá no fundo, no âmago.
Em parte, porque as estruturas básicas da sociedade – opressivas, é verdade, mas ainda assim formativas para a população – se dissolvem desde o fim da Modernidade e a chegada da Pós-Modernidade, Pós-Capitalismo ou Capitalismo Tardio – os tempos líquidos de Bauman. Basicamente escola, igreja e família. (E não quero aqui fazer apologia, muito menos crítica, dessas instituições intrínsecas à sociedade humana minimamente desenvolvida).
 Temos milhares de escolhas e possibilidades, online e off-line, a vida nunca foi tão cômoda, mas estamos adoecendo. E ninguém, ou quase ninguém, está vendo. Esta semana tivemos o suicídio (comemorado por muita gente!) do primeiro YouTuber de grande influência, PC Siqueira – repleto de cocaína, remédios, álcool, desesperado. Alguém sabia? Nossa face obscura não é agradável de ser mostrada.
O que eu diria? Disque 188 se precisar de apoio emocional, inclusive para suicídios. Ou mande mensagem pelo site da CVV – Centro de Valorização à vida, cvv.org. Em caso de violência contra a mulher, o número é 180. E procure auxílio médico. Alimente-se bem, faça exercícios físicos regulares, esqueça um pouco as redes sociais e a importância dos likes e seguidores. Esteja bem para poder fazer o bem, ninguém dá o que não tem.
Esta é a última coluna do ano, Feliz Ano-Novo! Ou, um Ano Novo menos triste para todos nós.