Nunca se falou tanto em meditação e pilates, estratégias para aquietar a mente e o coração. Nunca os consultórios psiquiátricos – e de outros médicos, devido a doenças advindas do estresse – estiveram tão cheios. A síndrome do burnout já é endêmica, levando ao adoecimento físico e mental por excesso de trabalho ou de insatisfação no trabalho. Nunca trabalhamos tanto – uma usina para produzir uma gota não é uma situação rara no profissional.
Redes sociais – elas nos fazem girar e girar, o celular grudado nas mãos para postar ou ao menos “bisbilhotar” (acompanhar é um termo mais dócil). Estamos postando – muitos de nós – tudo o tempo todo, como um Big Brother gigantesco e voluntário, de proporções globais: o que comemos, quando malhamos na academia (tem gente que leva até o tripé para se fotografar e filmar), o que vestimos, o que pensamos (tem-se sempre que ter uma opinião, e muitas vezes ela vem com a agressividade do nosso esgotamento mental e físico), o que estamos fazendo, onde estamos, com quem etc. Ali, na tela, tudo é recortado da realidade conforme se deseja, montando uma personagem que pode ou não ser encarnada na vida offline, mas tende a se tornar o que nós somos porque passamos muito tempo tentando sê-la na Internet.
O que quero dizer, de forma breve desta vez – sim, estou cansada, esgotada, mais uma vez trabalhei demais, são quase 23h e não fiz metade do que pretendia -, é: VAMOS PARAR UM POUCO? Até parece vergonha, “coisa de desocupado”, ou pior, fracassado, ter um bom tempo livre diário ou não ficar postando uma edição revista e ampliada da própria vida, onde em geral tudo é muito melhor, mais simples, superficial, fácil e esteticamente próximo da perfeição, com tantos filtros, retoques e efeitos de aplicativos. Nós nos editamos, cuidamos de nossa imagem de forma contínua, e isso cansa, dado que fazemos isso – postar, comentar, curtir, seguir, divulgar nossa felicidade ou glamourizar nossa tristeza – enquanto vivemos “de verdade”.
Calma, não sou um Ned Ludd, do movimento ludita, batendo nas máquinas com porretes. A Era Digital sobretudo nos uniu, ao mesmo tempo em que nos permitiu “encontrar nossa turma” e nos deu maior acesso ao conhecimento e ao entretenimento. Porém, a tecnologia é uma faca de dois gumes, assim como a tão almejada fama e influência digital – milhares de pessoas “brotam do nada” para falar sobre o que, muitas vezes, não dominam, ou conteúdos vazios, e às vezes altamente construtivos e informativos.
Por falar em “informativo”, a informação vem de todos os lados, o tempo inteiro, encharcando nosso cérebro de percepções e escolhas. Estamos adoecendo… mais mental que fisicamente, talvez. Somos fitness, mas não na mente. Nossa mente é pesada, é difícil relaxar e se desligar das redes, dos compromissos que são atestado de relevância social, status quo, sobrevivência na “selva de concreto”.
Você já parou para pensar quanto tempo dedica diariamente, em média, à sua família? Namorado(a)? A você mesma(o)? O tempo da solitude, que é a virtude da solidão, nesse caso.
Claro, quero dizer sem o celular na mão, sem postar o que está pensando ou fazendo, quantas vezes ou quanto tempo você age assim ultimamente a cada dia? Tempo sem telefonar, sem reuniões, sem pilhas de trabalho madrugadas adentro, sem crises de ansiedade, de pânico, depressão, exaustão… Não somos nós as máquinas, elas é que devem nos servir e otimizar, não destruir nossa qualidade de vida.
Vamos parar um pouco todo dia?
No fim de semana, mais ainda! Se necessário, faça uma agenda e “encaixe” momentos de lazer. Programe-se. E por que não uma diversão imprevista para quebrar a rotina?
Vamos parar um pouco? Não parar de viver, parar de se exaurir. Trabalhar. Estudar. Postar. Vamos parar um pouco para nós mesmas(os) e aqueles a quem amamos. São tempos difíceis de Covid, e, apesar do isolamento, a proximidade com aqueles com quem convivemos nunca foi tão necessária no combate à solidão, ao medo e ao erro de “mergulhar no trabalho”.
Vamos parar um pouco e recarregar nossas baterias… Se até nossos aparelhos digitais precisam constantemente – e cada vez mais – ser carregados, quanto mais nós que os utilizamos!
Encontre hobbies, formas de lazer, pessoas com quem possa estar – evitando aglomerações, evidentemente -, livros, séries, filmes, aprenda a cozinhar, ou novos pratos, tente atividades físicas, se puder ao ar livre, respire ar puro, tome sol, caminhe sem direção… Apenas se sentindo e esvaziando a mente de preocupações.
É isso! Bom restante de semana a todas(os)! Eu vou é parar por aqui, porque também preciso parar um pouco e descansar de mim e do mundo.