A primavera vem aí: o que deixar ir embora e o que deixar (re)nascer?

Leila Krüger

Todos os anos temos quatro estações, em momentos diferentes do calendário, dependendo se no hemisfério sul ou no hemisfério norte. No sul, em 2023, a primavera inicia-se, precisamente, às 3:05 da madrugada deste sábado, 23 de setembro. Lembrando que as estações do ano são determinadas pela inclinação do eixo de rotação do planeta Terra dentro do plano de sua órbita em volta do Sol. E aqui, quero trazer uma reflexão (todo fim de ciclo, como o é o fim de uma estação, me faz refletir): o que devo deixar florescer, e o que devo deixar ir “morrer” com o fim do outono e início da primavera?

A primavera é considerada a mais bela das estações, a mais auspiciosa, ao menos do ponto de vista da natureza: é a estação das flores e do renascimento, de plantas, sementes, da “vida que revive” em cores, aromas e voluptuosidade.

Nesta ideia de renascer, penso em meu próprio renascimento como pessoa. Algumas coisas (hábitos, relacionamentos, convicções) devem ser mantidas, mas quais precisam ou podem ser mudadas para que eu viva mais “colorida” e “vibrante”, tal qual a primavera? 

No Brasil (onde está chegando a primavera, ao mesmo tempo em que, no hemisfério norte, o outono está às portas), não vemos tanta diferença do outono para a primavera como em países de temperaturas mais extremas e mais gélidos, que chegam a ficar cobertos de neve boa parte do ano. Minha mãe, que é descendente de tchecos, conta como meus bisavós, imigrantes vindos da Tchecoslováquia, atual Polônia, ficavam felizes quando a primavera chegava e podiam, finalmente, ver a neve derreter, abrir a porta da casa e enxergar flores, vida, o sol. Antes, apenas estocavam comida e mal podiam sair no frio implacável da Europa Oriental. Era um novo tempo.

Cada nova estação é uma oportunidade para refletirmos sobre finais e recomeços. A primavera inspira mudanças positivas, o resgate da alegria, do ânimo, da vontade de viver, o desabrochar de si mesmo.

Nem sempre é fácil desabrochar, crescer, ganhar vulto, como flores e plantas na primavera. Há que se fazer renúncias e escolhas. Elas são sempre necessárias, o tempo voa, de primavera em primavera, e não escolher já é uma escolha: às vezes, a escolha de “não fazer a travessia e ficar, para sempre, à margem de nós mesmos”, parafraseando Fernando Pessoa.

Esta é a estação certa para resolver algumas coisas na vida de cada um de nós, ou, ao menos, repensá-las.

Nem tudo são flores, como diz o velho ditado, nem sempre é primavera, a primavera não significa um mar de rosas, e nem sempre podemos escolher – não da forma, ou no momento em que gostaríamos. Porém, sempre há escolhas e mudanças possíveis, para melhor. Bem-vinda, primavera, a mais bela, nos inspire a florir primeiro a nós mesmos, e depois, ao mundo.