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quinta-feira, fevereiro 13, 2025
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Bem-vindos à Era da IA: uma faca de dois gumes  

Quando eu fazia meu primeiro curso de graduação, na UFSM, no Rio Grande do Sul, e depois especialização e mestrado na PUCRS, falávamos muito em “Era Digital”. Toda a bibliografia gravitava, de uma maneira ou de outra, ao redor desse tempo inovador, o domínio progressivo e criativo – e, talvez, ameaçador – da Internet sobre o mundo. Pois agora está claro que nos encontramos em um novo momento histórico: a Era da IA (Inteligência Artificial). Não há volta.

Cada vez mais, e mais rapidamente, tudo se conecta às inteligências generativas, máquinas capazes de aprender com o cérebro e o comportamento humanos. Ninguém pode responder exatamente o que o futuro nos guarda, o que será possível ou impossível e quando. Estamos apenas engatinhando na IA, que expande seus tentáculos gigantescos sobre todo o globo, visando a todas as áreas do conhecimento humano, sobretudo agindo em nosso cotidiano.

Bem, mas o que, exatamente, quer dizer IA?. Conceitualmente, IA, ou AI em inglês (Artificial Intelligence) é uma área da computação que se dedica ao desenvolvimento de sistemas e máquinas capazes de realizar tarefas que, normalmente, exigiriam inteligência humana: aprender, resolver problemas, tomar decisões e reconhecer padrões. A IA atua através de algoritmos e imensos volumes de dados para “aprender” com sua própria experiência – a princípio, “ensinada” por cérebros humanos -, melhorando seu desempenho ao longo do tempo. Exemplos de IA incluem assistentes virtuais, reconhecimento de voz e imagem e sistemas de recomendação.

JOGOS DE XADREZ: PRENÚNCIOS DA IA

O ano de 2017 foi decisivo, embora silenciosamente, para a IA. O AlphaZero, um programa de xadrez desenvolvido em IA, teve inseridos em si as regras desse tradicional jogo de tabuleiro e treinou sozinho por apenas quatro horas. Logo entrou em ação. Venceu cerca de 95% (mais os empates) dos duelos com computadores sem IA que jogavam xadrez. Não se tem notícia de sequer um ser humano que tenha vencido o AlphaZero até agora. Mas o mais interessante, para enxadristas ou qualquer observador, é que o Alpha implantou táticas “não-ortodoxas”: sacrificou peças vitais inesperadamente e executou movimentos que os humanos não lhe instruíram a utilizar, e talvez que jamais teriam considerado. Portanto, assumiu uma lógica própria e imprevisível – mas funcionou.

Caso semelhante se deu na descoberta de um poderoso antibiótico, capaz de acabar com cepas até então resistentes a todos os medicamentos e tratamentos. Em 2020, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), após reunir milhares de moléculas em um estudo, cientistas convidaram a IA a participar da tarefa. Parecia muito difícil e onerosa, humanamente falando. Assim, a IA decodificou atributos de moléculas que poderiam ser antibacterianas, previamente cadastradas pelos estudiosos. A tecnologia aprendeu esses atributos e, mais uma vez surpreendentemente, identificou outros que não haviam sequer sido codificados pelos estudiosos – muitos escaparam da conceituação ou categorização humana. Como nas jogadas de xadrez. Daquelas 61 mil moléculas de compostos aprovados pela FDA, apenas uma se encaixou em todos os critérios dos pesquisadores, dando origem à halicilina. E mais: mesmo após a descoberta do antibiótico pela IA, os humanos não conseguiram explicar exatamente por que ele era totalmente eficaz – mas funcionou.

Nestes exemplos, como em outros, a IA não apenas processou dados muito mais rapidamente que cérebros humanos, ou até computadores sem IA fariam. Mais que isso: detectou aspectos da realidade que nenhuma pessoa havia considerado, e provavelmente ninguém seria capaz de fazê-lo.

O FUTURO DA IA

Hoje, esta IA está em nosso cotidiano: quem nunca ouviu falar em ChatGPT e outras inteligências generativas de conteúdos? Você pode criar imagens, vídeos, respostas, e mesmo arte a partir da Inteligência Artificial, a partir de prompts de comando. São infindáveis os sites e aplicativos que nos oferecem serviços gerados, total ou parcialmente, por IA.

E como é intrigante a Inteligência Artificial! Em uma experiência, foi apresentada ao ChatGPT-3 foi uma série de comentários filosóficos sobre suas habilidades. A resposta da IA começou com: “Caros filósofos humanos, li seus comentários sobre minhas habilidades e limitações com grande interesse”, seguindo-se um texto que atendia a todos os questionamentos de forma respeitosa e ao mesmo tempo esclarecedora e criativa. Sim, o ChatGPT-3 era capaz de entender coisas, disse o próprio. Mas não, não tinha consciência ou senso de moralidade, e não, não poderia ter pensamentos independentes, o que, conforme revelou, era contraditório: “Sou apenas um modelo de linguagem”.

Aí nos perguntamos: até onde esse modelo de linguagem, essa inteligência generativa que desafia premissas humanas e a própria realidade observável, que surpreende e inova “brutalmente”, até onde poderá ir?

É só o começo da IA – e as profissões, praticamente todas elas, tendem a depender dessa tecnologia. As que lidam diretamente com IA e redes neurais profundas são as mais promissoras. Parece-nos que o mais notável nisso tudo é que a IA aprende por si mesma a partir do que o cérebro humano lhe instrui, e depois, cria, sim, certa independência que lhe confere tamanha imprevisibilidade e astúcia.

IA: UMA FACA DE DOIS GUMES

Queiram alguns ou não, a IA (AI), alimentada por cada vez mais algoritmos, pela computação e pelo baixo custo em aplicações as mais variadas, já é onipresente. É o presente e o futuro da humanidade. Sabendo que toda tecnologia é uma faca de dois gumes, utilizada para o bem ou para o mal, para ajudar ou prejudicar, e que a IA está explorando e reorganizando a realidade, podemos nos questionar sobre nosso próprio futuro, como desenvolvedores ou utilizadores da “rainha” do tabuleiro da nossa era.

Neste escopo, é pertinente questionar se a IA poderá chegar a ter senso moral e consciência. Possível ou não, poderá executar medidas drásticas para melhora futura da humanidade, mesmo sacrificando o presente (e pessoas ou lugares ou tarefas)? E se, para a IA, a humanidade for como um jogo de xadrez, como nos experimentos mais rudimentares envolvendo essa tecnologia generativa, e “jogadas” inesperadas e arriscadas forem executadas “para vencer no fim”?

Mais do que nunca, muitos de nós temeremos que a tecnologia destrua a humanidade. Algo como fizeram os ludditas, que espancaram fábricas no século XIX durante a Revolução Industrial da Inglaterra, “matando” as máquinas maléficas à humanidade e que poderiam tirar seus empregos.

Preferimos acreditar que, embora ensinadas pela humanidade, as tecnologias de IA não irão imitar o que de pior temos como humanos: a maldade, consciente e pura, a destruição do próximo, a violência descabida, a vaidade e o orgulho exacerbados, os preconceitos, a mentira, a hipocrisia e tantas outras mazelas que fazem nosso mundo ser como é, baseado na natureza humana. Duro é pensar que é a natureza humana a grande mão que tem ensinado a IA.

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