Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), destacou que, diante das crescentes demandas por aumento dos gastos públicos e das restrições para obter novas fontes de receita, o país não voltará a ter superávit primário tão cedo.
“Os números são muito negativos, a gente não consegue pensar em volta de superávits primários tão cedo (…). Há dificuldade de ter mais receitas e de controlar gastos. Os problemas são complexos do ponto da economia política, o que aumenta muito os gastos das receitas recorrentes, e são gastos relacionados à transferência de renda”, afirmou ela.
As declarações foram feitas durante o 2° Seminário de Análise Conjuntural, promovido pelo Ibre-FGV e pelo jornal O Estado de São Paulo, onde também foram discutidas questões sobre política monetária e combate à inflação. José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre-FGV, ressaltou que o combate à inflação não pode ser responsabilidade exclusiva do Banco Central (BC).
“Os resultados seriam muito melhores se a política fiscal tivesse rumos diferentes dos que tem tomado”, afirmou Senna.
Ele também destacou que o poder do BC para controlar o aumento das expectativas de inflação está limitado, em parte, devido à política de gastos crescentes do governo e às incertezas em torno da nova composição da diretoria da autarquia, uma vez que o presidente atual, Roberto Campos Neto, deixará o cargo em dezembro.
Armando Castelar, economista, ressaltou a importância de conduzir cuidadosamente a transição do comando do BC.
“Está se colocando uma situação complicada na qual, para ser indicado [à presidência do BC], o cidadão tem de coadunar com a ideia de que o juro será derrubado”, concluiu.