A escassez de medicamentos para tratamento da hanseníase, uma condição crônica que afeta a sensibilidade térmica, tátil e a força muscular, está criando desafios significativos para o Ministério da Saúde. A falta desses remédios está dificultando o início do tratamento para os pacientes.
Segundo um documento obtido pelo jornal Folha de S.Paulo, os medicamentos usados como primeira linha de tratamento da hanseníase – a poliquimioterapia e a clofazimina – são doações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que ainda não foram recebidas pelo Brasil.
O Ministério da Saúde emitiu um comunicado indicando que a OMS atrasou a fabricação dos medicamentos, e também enfrentou desafios logísticos na entrega, especialmente nas proximidades do Oriente Médio.
Além disso, o Ministério da Saúde reconhece que a quantidade de clofazimina recebida em 2023 não foi suficiente para atender à demanda, especialmente devido ao aumento no consumo, mesmo com os contratempos na produção e na logística.
Os casos de hanseníase registrados aumentaram de 15 mil em 2021 para mais de 17 mil em 2022 e, em 2023, atingiram 19 mil casos.
Para enfrentar a escassez, o documento sugere o uso de ROM (rifampicina + ofloxacino + minociclina), um medicamento de segunda linha, com uma dose única mensal. O Ministério da Saúde afirma que essa estratégia tem embasamento científico.
No entanto, especialistas questionam a eficácia e disponibilidade deste medicamento proposto pelo Ministério da Saúde. Eles afirmam que o medicamento de segunda linha não é eficaz para todas as formas da doença e também está em falta em algumas áreas.
Francisco Faustino Pinto, coordenador nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), critica a solução sugerida pelo Ministério da Saúde, afirmando que ela apenas confunde mais o problema.
Marco Andrey Cipriani Frade, presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia e coordenador do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária com ênfase em Hanseníase da USP de Ribeirão Preto, também critica o Ministério da Saúde, alegando que suas estratégias são simplistas e irresponsáveis, e que não estão sendo feitos esforços eficazes para garantir a disponibilidade dos medicamentos essenciais para o tratamento da hanseníase.